“Foi com muita ponderação que aceitei este ano as bandeiras azuis”

O autarca de Matosinhos critica a metologia de seleção das praias com direito a Bandeira Azul. “Existe uma ilusão. Há praias com bandeiras azuis cujas análises nunca vi feitas”, acusa.

Matosinhos vai ter quatro praias com Bandeira Azul este ano. Não é pouco para tão grande extensão de costa?
É pouco. Foi com muita ponderação que este ano aceitei as bandeiras azuis e não desisti das candidaturas. Eu acho incríveis algumas das coisas que se têm passado nesta matéria. No caso de Matosinhos temos sete praias com qualidade para Bandeira Azul que não foram candidatadas porque eu entendo que a qualidade não é só a da água, e passa também pela qualidade do serviço prestado aos cidadãos. E como sabem temos muitas zonas que vão estar em obras, como é o caso da praia do Aterro, que é magnifica. As praias de Matosinhos são todas elas recomendáveis, e se não têm bandeira azul é porque ainda não coincidiu a qualidade da água com os equipamentos. Com a excepção da praia de Matosinhos, que tem qualidade aceitável, e da praia de Leça, que tem um mistério que ainda não consegui desvendar: como sabem fizemos uma remodelação completa naquela zona. No ano passado, a época balnear já decorreu com as obras terminadas e eu ainda não percebi porque é que aquela praia não conseguiu ter maior número de análises boas ou aceitáveis. Existe uma ilusão. Há praias com bandeiras azuis cujas análises nunca vi feitas.

Está a pôr em causa o processo?
Não estou. Mas relativamente à Praia da Memoria, que sempre teve bandeira azul, no ano passado tivemos uma análise oficial aceitável a mais que o limite. Tínhamos análises completares contratualizadas com o Instituto da Água, mas que no final não serviram para manter a bandeira azul, apenas porque, prepotentemente, o diálogo do início da época balnear não se concretizou. Mas eu não quero discutir isso. As praias de Matosinhos têm uma imagem positiva, e a revolução que está acontecer na costa é das coisas que mais me orgulho.

As suas filhas tomam banho na Praia de Matosinhos?
Claro. Todos os anos. É uma praia fantástica, que já estava recuperada há alguns anos. Houve foi ali um período de três anos em que foi prejudicada pela poluição no rio Douro e por problemas na Etar de Sobreiras, no Porto. No ano passado tive a oportunidade de, publicamente, pôr o dedo na ferida. Achei por exemplo profundamente mau que a ribeira, poluída, que sai no Castelo do Queijo, tivesse sido desviada em direcção à praia de Matosinhos perante a passividade de toda a gente. A única pessoa que denunciou o facto fui eu. Ninguém reagiu a este acto inqualificável. Pelo menos poderia ter havido um contacto por parte dos serviços da Câmara do Porto, como acontecia quando Rui Sá era vereador do Ambiente e eu presidia aos SMAS de Matosinhos. Nesse tempo fizemos um acordo para tratamento das ribeiras comuns.


“A capacidade de reivindicação não se mede pelos decibéis”, diz presidente da Câmara de Matosinhos

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O presidente não concorda que o Porto tenha várias unidades para centros de congressos Paulo Ricca (arquivo)
Quais são as diferenças entre o seu projecto e o de Narciso Miranda?

O meu projecto é adequado às novas circunstâncias. Ele teve de responder a alguns problemas, e eu a outros. Ele teve de enfrentar a desindustrialização de Matosinhos, na década de 80. Eu tenho de colocar Matosinhos no mundo da globalização, das novas tecnologias. Tenho neste momento uma revolução a acontecer em matéria educativa. Com a escola a tempo inteiro, temos um conjunto de programas que fazem com que nada fique como dantes nesta área: na construção de centros escolares, na promoção do sucesso escolar, que é muito importante, e a que estamos a dar muita atenção. Há coisas pequenas, e muito importantes. Criámos um programa de detecção de dificuldades de aprendizagem logo no quinto ano, e o que está a acontecer é que hoje essas crianças são alunos normais e, metade delas, muito bons estudantes. Um presidente de câmara deve preparar a sua comunidade para enfrentar os desafios do futuro.


A educação é então uma bandeira...

Sim, mas podemos falar também de ambiente. Estamos a investir 50 milhões de euros na orla costeira. Estamos a construir vias, parques de estacionamento, equipamentos, para dar uma nova imagem da costa de Matosinhos, de uma ponta à outra do concelho. Não ficará pronto até Angeiras até final do mandato, mas está lançado.É outra revolução completa. E em matéria de saúde, com um bocado de sorte, mas também com muito engenho, eu vou conseguir que se cumpram os compromissos assumidos: a requalificação dos centros de saúde de Santa Cruz do Bispo e de Perafita, a construção dos centros de saúde de Leça do Balio e de Custoias.


Está a querer dizer que tem capacidade de reivindicação, já que essas obras são do Governo...

A capacidade de reivindicação não se mede nem pelos decibéis nem pelas páginas de jornal que se escrevem com o que dizemos. Eu poderia ganhar uma popularidade fácil se quisesse colocar-me numa posição contra o Governo. Eu não o quero fazer, porque tenho com este Governo uma excelente relação de cumplicidade, que acaba por trazer para Matosinhos o que o concelho precisa. Ainda na quinta-feira estive a assinar com a APDL um protocolo que estava há 11 anos para se fazer. E ainda podemos falar da resolução do problema da Petrogal, com a requalificação ambiental e a criação da comissão independente de acompanhamento. Dos dossiers que recebi, só não tenho certezas sobre o da Exponor...


E com a APDL, o que mudou?

Mudou sobretudo a capacidade de diálogo, que existia dantes, mas que tinha sido interrompida por causa de alguns desentendimentos. A câmara tem que ter uma postura reivindicativa com a APDL, mas tem que entender que o Porto de Leixões é decisivo para a economia do Norte e para Matosinhos, concelho que é muito o resultado daquilo que foi o desenvolvimento deste porto, mesmo sociologicamente. Quando o porto de Leixões se constipa, nós também ficamos doentes. Temos de ter uma comunhão de objectivos. A aproximação, interrompida em determinado momento, é hoje uma realidade. A APDL tem uma perspectiva diferente da integração na cidade, embora falte resolver alguns problemas, como a remodelação da Avenida Antunes Guimarães, a ligação entre Leça da Palmeira e o Monte Castelo, em Guifões. E falta sobretudo acabar com os camiões que a CP ainda concita para o centro de Matosinhos. Já temos a Via interna do Porto de Leixões, que retirou dois mil camiões por dia das ruas da cidade, mas falta ainda transferir para a futura plataforma logística de Gatões, através da VILP, o tráfego em direcção ao terminal de mercadorias da CP.


Acredita que a Obra do terminal de Leixões vai mesmo arrancar em 2009?

Tenho a certeza absoluta. A APDL tem mostrado uma capacidade de concretização paradigmática de um organismo bem gerido. Se todo o país fosse tão bem gerido como o Porto de Leixões, teríamos já ultrapassado algumas dificuldades. E notei o empenhamento pessoal do senhor primeiro-ministro neste projecto. Ele sabe que pode marcar a diferença para o turismo de todo o Norte do país. Aliás, este é um dos pontos em que já deveria haver mais articulação entre os municípios. Já deveria existir um mapa de cidade que incluísse o contínuo urbano desde Gaia ao Porto de Leixões.


Os acessos a Matosinhos têm melhorado muito. Mas está preparado para ter uma cidade cercada de vias com portagem?

Já disse ao senhor ministro das Obras Públicas que os movimentos intraconcelhios e intrametropolitanos não devem ser sujeitos a portagem. Não tenho nada contra que se cobre pelas viagens de média ou longa distância.


Acha então que o Alto Minho, com os seus problemas, tem ainda assim que pagar para chegar a Leixões, ao Porto.

Se houver alternativas...deve é haver critérios muito objectivos. A nossa região tem que ter escala para competir, e para isso é fundamental a mobilidade intrametropolitana dos seus cidadãos. A Junta Metropolitana suscitou ao ministro que isto fosse estudado. Ainda terão de ser resolvidos vários problemas, e a minha convicção é que o Governo não vai avançar com nada sem antes falar com os autarcas. Esse é o compromisso que o ministro estabeleceu comigo.


Quando é que teremos as obras dos novos acessos à A28, na zona da Senhora da Hora?

Essa é uma das matérias que mais me preocupa. Havia um projecto estabilizado e que esteve mesmo quase a ir a concurso, que a Estradas de Portugal parou porque a Câmara do Porto entendeu fazer alterações no troço entre o Nó de Francos e a Rotunda AEP, no nó com a circunvalação. Tudo ficou atrasado. Eu espero que rapidamente se desbloqueie. Penso que neste momento a questão tem que ver com saber quem paga o sobrecusto do enterramento daquela zona, que, sinceramente, me parece bem. Não tenho uma perspectiva nada paroquial destas coisas e, aliás, às vezes fico constrangido por não haver mais sinergias entre as autarquias. Num território como este, que queremos tornar competitivo, não faz sentido nenhum que os autarcas não se entendam, que não se reúnam mais vezes. Eu tenho tentado, mas não é correspondido. Deveria haver um encontro de ideias entre as autarquias da Área Metropoliana do Porto relativamente a alguns dossiers.


E o projecto da circunvalação?

É outro dossier que arrasta os pés inexplicavelmente. Não se começou a fazer da melhor forma. Houve alguns erros processuais que podiam ter sido evitados e a última noticia que tenho é que a candidatura ao Quadro de Referência Estratégico Nacional estava com algumas dificuldades porque em vez de ser uma candidatura da Junta Metropolitana, deveria ser de uma das autarquias. O que é um disparate que ainda nem percebi, mas que espero que consigamos resolver para transformar a circunvalação num elo de união entre as cidades. É decisivo que consigamos concretizar este projecto que, não dizendo respeito a todos os concelhos, devia ser promovido pela Junta. Tal como a despoluição do Leça.


Temos ainda o metro, o aeroporto, a alta velocidade ferroviária. Agrada-lhe a forma como a Junta tem abordado estas questões?

Há um défice na definição de uma estratégia conjunta, na escolha dos projectos que devem avançar para lá daquilo que é a intervenção do Governo. Temos estado muito atentos às obrigações da administração central para com a região, mas menos atentos às obrigações estratégicas que dependem de nós. Mas reconheço que tem sido feito um esforço, que não existiu em momentos anteriores. O balanço que faço das juntas metropolitanas é negativo, em todos os tempos. Até porque os presidentes de Câmara têm disponibilidade limitada para se dedicar a estas questões, o que não aconteceria num modelo em que a Junta fosse eleita, ou em que pelo menos houvesse um responsável que, escolhido pelos seus pares, se pudesse dedicar a tempo inteiro. O curioso é que quando chegou o momento de discutir mudanças, mesmo aqueles que comigo partilhavam as críticas ao modelo de funcionamento, de repente agarraram-se ao que existe, e não o quiseram alterar.


E em relação ao aeroporto. Como vê o interesse da Sonae e da Soares da Costa na gestão deste equipamento?

O ideal seria um modelo em que a região tivesse uma palavra a dizer sobre a gestão do aeroporto. Mas o que eu quero saber agora é se um equipamento como este tem viabilidade económica para poder subsistir sem estar ligado a um sistema. Desafiei os meus pares na junta para que se completasse o estudo que encomendamos com um outro estudo que verificasse esse aspecto. E estou satisfeito com a abertura demonstrada pelo primeiro-ministro. Vamos ver é se existem mesmo interessados. A Sonae tem grande capacidade de realização. É muito importante perceber o acompanhamento que o engenheiro Belmiro de Azevedo faz de alguns dossiers importantes para a região, mas nesta matéria vamos ter os pés bem assentes na terra e aguardar o estudo económico.


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