Espanha enfrenta chuvas torrenciais nas regiões já afectadas por cheias. Málaga e Valência em alerta vermelho

Meteorologistas prevêem até 180 milímetros de chuva em 12 horas no Sudeste de Espanha. Aviso vermelho para Málaga e Valência.

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Ruas alagadas e milhares de pessoas retiradas de casa. As imagens das cheias em Málaga Reuters, Joana Gonçalves
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Os municípios afectados pelas cheias perto da cidade de Valência, no Leste de Espanha, mal tiveram tempo de recuperar-se da catástrofe de há duas semanas e já estão a preparar-se para mais uma “gota fria”​. O serviço meteorológico espanhol emitiu um aviso vermelho (o mais elevado numa escala de três) para chuvas fortes esta quarta e quinta-feira nas regiões de Málaga e Valência.

Embora não se espere que a tempestade seja tão violenta como a que ocorreu dia 29 de Outubro, poderá ser devastadora para as cidades que ainda estão a recuperar. O fenómeno extremo de precipitação de há duas semanas, denominado gota fria” - ou depresión aislada en niveles altos (DANA), em espanhol -, provocou pelo menos 223 mortes e a destruição de casas e infra-estruturas.

Segundo a última actualização da Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET), às 21h10 locais (20h10 em Lisboa), estão previstos até 180 litros de chuva por metro quadrado acumulados em 12 horas no litoral de Valência, sob aviso vermelho até às 11h59 desta quinta-feira, 14 de Novembro. Foi também emitido um aviso vermelho para Málaga, em vigor até às 7h59 de quinta-feira, estando previstos 120 litros de precipitação por metro quadrado em 12 horas. Para as restantes zonas, os avisos são laranja e amarelo.

O Ministro dos Transportes espanhol, Óscar Puente, confirmou a suspensão das ligações ferroviárias de alta velocidade entre Madrid e Valência, Madrid e Málaga e Barcelona e Málaga, pelo menos até às 12h de quinta-feira, numa publicação no canal mantido pela tutela no Whatsapp. Registam-se ainda perturbações em outras ligações ferroviárias, incluindo entre Barcelona e Valência.

Mais de 4000 pessoas foram retiradas das suas casas pelos serviços de emergência em Málaga, devido ao elevado risco de inundação perto do rio Guadalhorce, a oeste da cidade. Noutras zonas, foi pedido aos cidadãos que se abrigassem em locais mais altos. Registam-se inundações em vários pontos da cidade, incluindo os edifícios da Faculdade de Psicologia da Universidade de Málaga e do Hospital Clínico.

O jogo da final da Taça Billie Jean King 2024 entre a Espanha e a Polónia, inicialmente previsto esta quarta-feira à tarde em Málaga, foi adiado devido ao mau tempo, anunciou a Federação Internacional de Ténis. A partida foi reagendada para a próxima sexta-feira, 15 de Novembro, às 10h (9h em Portugal continental). ​

As comunidades afectadas apressaram-se a ultimar a remoção de lama e detritos do sistema de esgotos, a empilhar sacos de areia e a encerrar as escolas, enquanto se preparavam para outra tempestade que se aproximava.

O impacto da chuva pode ser grave devido à quantidade de lama já existente no solo e ao estado da rede de escoamento de águas pluviais, disse aos jornalistas Rosa Tauris, porta-voz do comité de emergência de Valência, citada pela agência Reuters.

Milhares de trabalhadores estão a limpar os edifícios e a remover a lama que se acumulou nas estradas e passeios e que entupiu as condutas de esgotos na Comunidade Valenciana.

O comité de emergência emitiu um aviso especial solicitando aos municípios e organizações que tomem medidas preventivas, incluindo o encerramento das escolas. Rosa Tauris recomendou que os cidadãos trabalhassem à distância, se possível; evitassem viagens não essenciais e seguissem as actualizações dos serviços de emergência.

A Ministra do Trabalho espanhola, Yolanda Diaz, e os sindicatos recordaram aos trabalhadores que não eram legalmente obrigados a ir trabalhar se o mau tempo assim o justificasse.

No município de Sedaví, em Valência, um veículo do exército circula pelas ruas com um altifalante a pedir que os habitantes fiquem em casa e limitem ao máximo actividades ao ar livre, refere o El País na rede social X.

Dez mil toneladas de detritos

A Câmara Municipal de Chiva, um dos locais mais atingidos, cancelou as aulas e as actividades desportivas, enquanto na vizinha Aldaia, os trabalhadores empilharam sacos de areia para proteger a cidade.

“Estamos a colocar sacos de areia para substituir as comportas que as cheias anteriores destruíram”, disse à Reuters o funcionário municipal Antonio Ojeda, na esperança de evitar que a ravina de Saleta volte a transbordar.

Estão também a limpar as valas e os esgotos que estão obstruídos com árvores, pneus e peças de automóveis. Na segunda-feira, foram retiradas 10.000 toneladas de móveis, electrodomésticos e vestuário, quase tanto lixo como o que Valência elimina num ano.

Os avisos meteorológicos abrangem nove regiões: Aragão, Astúrias, Cantábria, Baleares, Castela e Leão, Catalunha, Galiza, Múrcia e Comunidade Valenciana. O serviço meteorológico espanhol advertiu, contudo, que o perigo se concentra nas Ilhas Baleares, em Valência, em Múrcia, em Málaga e na Andaluzia Ocidental.

Dezenas de milhares de manifestantes reuniram-se, no último sábado, na cidade de Valência para protestar contra a actuação do governo regional nas cheias, acusando o executivo de falhar na preparação e prevenção da catástrofe. Reivindicavam, por isso, a demissão do presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón. ​As autoridades locais só enviaram mensagens de alerta por telemóvel às populações locais várias horas após as primeiras inundações e depois de a agência meteorológica espanhola lançar um aviso de perigo extremo na região.


O estado do tempo e clima são conceitos diferentes. O tempo previsto para estes dias corresponde ao estado instantâneo da atmosfera em Espanha, definido através de variáveis meteorológicas como a temperatura, precipitação, humidade, ou velocidade do vento. Já o clima consiste nos padrões registados ao longo de vários anos. Veja aqui mais sobre como os eventos meteorológicos no dia-a-dia podem (ou não) reflectir as alterações climáticas e como estas mudanças estão a intensificar os fenómenos meteorológicos extremos.