Pela primeira vez, um transexual masculino poderá ter um filho

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Para conseguir engravidar, Beatie teve que deixar os tratamentos de testosterona Adriano Miranda (arquivo)

Beatie nasceu mulher e, desde que resolveu mudar de sexo, submeteu-se a tratamentos de testosterona. Eliminou os peitos femininos e teve a sua última menstruação há mais de oito anos. Resolveu contudo conservar os seus órgãos reprodutores: “Ter um filho biológico não é um desejo masculino ou feminino, é um desejo humano”, afirmou num artigo publicado na revista norte-americana para a comunidade gay “The Advocate”.

A vontade de ter um filho tem mais de 10 anos, altura em que Beatie casou com Nancy, a sua mulher. Como Nancy não podia ter filhos, fruto de uma histerectomia a que foi sujeita há 20 anos, Beatie resolveu recorrer à inseminação artificial e a um banco de esperma. Para conseguir engravidar teve que deixar os tratamentos de testosterona durante quatro meses. “O meu corpo regulou-se por si mesmo. Não tive que tomar estrógenos nem progesterona para favorecer a fertilidade”, afirmou.

Segundo Mário de Sousa, especialista em reprodução medicamente assistida, Thomas Beatie é uma mulher com suave aparência masculina através do recurso a um processo de alteração do corpo: o especialista chama-lhe estectomia e endogeneização. “A testosterona tomada poderá ter provocado uma atrofia nos órgãos reprodutores femininos mas há muitas pessoas que conseguem recuperar o metabolismo normal. Se assim for, não há nenhuma diferença entre o aparelho reprodutivo deste transexual e o de uma mulher”, esclarece o especialista.

Quando questionado acerca de como se sentia um "homem grávido”, Beatie respondeu: “Incrível. Estou estável e seguro de mim mesmo como homem que sou. Eu serei o pai, Nancy a mãe, e seremos uma família”. “Sou um transgénero, legalmente homem e legalmente casado”, afirmou. E, por isso, diz não encontrar qualquer entrave na sua gravidez. “Para os nossos vizinhos, para a minha mulher Nancy e para mim não parece nada fora do normal”, resumiu Beatie.

Apesar disso, admite que todo o processo foi um desafio e lamenta que muitos médicos o tenham discriminado. “Alguns rejeitaram-nos por causa de crenças religiosas. Outros recusaram dirigir-se a mim como um homem e reconhecer a Nancy como minha mulher. Nem mesmo alguns amigos e familiares nos apoiaram, a maioria da família da Nancy nem sequer sabia que eu era transexual”, desabafa Beatie. Mário de Sousa diz este tipo de situações também se verificam em Portugal, rejeitando-se ilegalmente o tratamento deste tipo de casais nos centros de reprodução medicamente assistida.

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