Fernando José Francisco iniciou o seu percurso expositivo nas primeiras Exposições Gerais de Artes Plásticas, de 1947, 1948 e 1949 e participou, em seguida, nas duas primeiras de "Os Surrealistas", o grupo surrealista "dissidente", realizadas em 1949 e 1950.
Da sua vida, pouco se sabe, além de que nasceu em Lisboa a 23 de Fevereiro de 1922, frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio, entre 1934 e 1939, participou nas sessões do Jardim Universitário de Belas Artes (JUBA) e nas reuniões do Café Herminius, da Avenida Almirante Reis, e colaborou no suplemento "Arte" do jornal ”A Tarde”, do Porto.
Abandonou a pintura por amor a uma mulher, com quem passaria o resto da vida, vendendo ocasionalmente algumas obras "para não morrer de fome", segundo Perfecto E. Cuadrado, autor de uma Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa intitulada "A Única Real Tradição Viva", publicada pela Assírio & Alvim em 1998.
Dele disse o poeta e pintor Mário Cesariny, um dos fundadores de "Os Surrealistas", falecido a 26 de Novembro de 2006: "Talvez de todos nós o pintor mais dotado e que pouco depois forneceria à pintura surrealista portuguesa o seu terceiro caso de 'emigração', esta total: para dentro, desaparecendo de todo o convívio, e ocultando para sempre, se é que os não destruiu, os seus óleos e desenhos".
Soube-se depois que a maioria desses óleos e desenhos conseguiram sobreviver ao silêncio do autor, embora o paradeiro de alguns deles continue desconhecido e um deles tenha mesmo aparecido em leilão, com uma assinatura heterónima, alheia à vontade do artista.
Após uma ausência de mais de 40 anos dos circuitos artísticos, o pintor apresentou trabalhos seus pela última vez numa exposição colectiva com Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, outro membro fundador de "Os Surrealistas".
Intitulada "...e o passeio do cadáver esquisito", a mostra foi inaugurada em Novembro de 2006, na Perve Galeria, em Lisboa, reunindo cerca de 90 obras (desenho, pintura, escultura e colagens) criadas entre 1941 e 2006, incluindo novos "cadáveres esquisitos" feitos pelos três artistas plásticos.
Designa-se por "cadáver esquisito" uma técnica de escrita e pintura muito divulgada entre os surrealistas que consistia na elaboração de uma obra por três ou quatro pessoas, num processo em cadeia criativa, em que cada um dava seguimento, em tempo real, à criatividade do anterior, conhecendo apenas uma parte do que aquele fizera.