As invasões bárbaras

"3...Extremos" é, assim, um filme em episódios que junta três cineastas das áreas do "gore", do fantástico, ou, de forma não tão redutora, que se movimentam genericamente numa zona inclassificável e extremada. Só para verem: em "Cut" um realizador mais que perfeito é colocado, por um "extra" ciumento, perante a escolha de matar uma criança ou ver os dedos da mulher serem cortados um a um; em "Box" o passado regressa para assombrar uma escritora que, em criança, deixou acidentalmente a irmã assar num incêndio; em "Dumplings" uma actriz acabou a carreira mas quer continuar bela e por isso segue a receita de "dumplings" de um misterioro "chef": fetos humanos.

Agora os cozinheiros, e quanto a estes há que dizer que os níveis de notoriedade são diferentes e que a obra (anterior) de cada um deles nem sempre é equivalente a essa coisa do "gore" ou do fantástico - por exemplo, Fruit Chan sempre fez filmes... "realistas". Por outro lado, se Park Chan-Wook goza dos intensos favores mediáticos conseguidos por "Old Boy" e Takashi Miike habita há algum tempo o templo do culto, o nome de Chan pouco dirá aos menos conhecedores do cinema de Hong Kong. Funcionará, então e sobretudo, para a união da mistura o carimbo "asiático", que é servido já como marca registada que identifica horizontes cinematograficamente misteriosos e exóticos. Qual o sabor, então, dos cozinhados? Park Chan-Wook elabora um pesadelo que testemunha afecto pela obra de Dario Argento - barroco, surrealista, em que a violência extrema é sempre um jogo com as expectativas do espectador. É o que ele tem feito nos seus filmes, aqui o exercício é mais teatral(izado). Takashi Miike apresenta um exercício atmosférico e a fazer-se "artístico" - é uma desilusão, pode parecer que o homem está a levar demasiado a sério a reputação que lhe estão a construir, mas felizmente não será nada de irreversível (quando "3...Extremos" foi apresentado o ano passado no Festival de Veneza, Miike tinha outro filme no certame, "Izo", uma parábola sobre a barbárie humana em que voltava a triunfar a visceralidade do seu cinema, irredutível, selvagem).

Fruit Chan, que sempre fez filmes brutalmente realistas, sobre os sentimentos humanos mais primários, continua com "Dumplings" esse olhar brutalista sobre o mundo. Não por acaso é, dos três, o único caso em que a curta acabou mais tarde por ser "estendida" para o formato da longa, respiração que já se sente, aliás, e que já apetece provar quando se vê o episódio - como se o formato que "3...Extremos" impõe fosse demasiado redutor. O que é que se pode dizer mais... bom apetite!

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