Microsoft estuda computação da fala no Tagus Park

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No curto prazo, o novo laboratório trabalhará em três projectos na língua portuguesa Inácio Rosa/Lusa

O novo laboratório, para além de se inserir na rede europeia de investigação e desenvolvimento (I&D) da Microsoft, promoverá a cooperação e parcerias entre entidades públicas e privadas nacionais. O seu director será Miguel Sales Dias, professor no Departamento de Tecnologias de Informação do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e vice-presidente do Grupo Português de Computação Gráfica.

Segundo João Paulo Girbal, director-geral da Microsoft de Portugal, trata-se de um "sonho antigo" e que já havia sido objecto de um acordo assinado entre a sua empresa e as autoridades portuguesas em 1998, aquando de uma visita a Lisboa de Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft e presidente do seu conselho de administração.

Três projectos de trabalho na língua portuguesa

No curto prazo, o novo laboratório - que acolherá 15 investigadores e tem um investimento previsto para o primeiro ano de 1,2 milhões de euros - trabalhará em três projectos na língua portuguesa: comandos e controlo por voz dos computadores; modelos de reconhecimento de voz para telefonia; e ferramentas de desenvolvimento e teste para fala e língua natural.

Para o médio prazo, o centro contempla sete outros projectos, como, por exemplo, modelos de língua e ditado no PC, componentes de língua natural, análise gramatical e tecnologias de conversão de texto em fala, tradução automática e interfaces multimodais em computadores de secretária e portáteis.

Nos anos seguintes, a Microsoft estima que o número de investigadores cresça até às sete dezenas e que o seu investimento anual atinja os 2 milhões de euros.

A criação de um grupo dedicado à língua natural no seio da Microsoft Research data de 1991, na sequência da contratação de um núcleo duro de cientistas que, até então, haviam trabalhado neste domínio para a IBM (grupo este que a Big Blue dissolveu em finais dos anos 80). Desde então a Microsoft tem apostado nesta área, sendo o resultado mais visível o conjunto de comandos de voz disponível na versão em inglês do seu Office 2003.

Miguel Sales Dias sublinhou o actual clima de cooperação entre os investigadores portugueses nesta área e que permitiu a organização em Lisboa, em Setembro, da conferência internacional InterSpeech 2005. A esta conferência foram propostos 1400 trabalhos e ela constituiu um marco na radicação desse ambiente de cooperação, o qual o novo laboratório da Microsoft pretende reforçar e dinamizar.

Para além de empresas privadas, como a Priberam - que desde há anos fornece à Microsoft tecnologia própria para a versão portuguesa do Office e que, entre outras parcerias, tem uma em curso com o Público.pt -, o centro de investigação e desenvolvimento no domínio da fala e da língua natural da Microsoft em Portugal quer cooperar com todas as entidades e grupos de investigação portugueses nesta área. Interessa-lhe a colaboração não só no âmbito das universidades (como o Centro de Recursos Distribuídos para a Língua Portuguesa ou o Grupo de Linguagem Natural, ambos da Faculdade de Ciências de Lisboa, o Instituto de Linguística Teórica e Computacional, ou o Departamento de Informática da Universidade do Minho), como fora delas.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, José Mariano Gago, que ontem visitou o laboratório, congratulou-se com a iniciativa da Microsoft, considerando-o "um caso de escola da passagem do investimento público" para a esfera privada, sublinhando o peso do esforço que o Estado tem feito, em particular nos últimos oito anos. Saudou ainda a ultrapassagem da "ideia" de que os esforços nesta área deviam ser centrados na língua inglesa, havendo apenas que adaptá-los depois às particularidades de cada uma das restantes línguas.

Após referir o bom exemplo do projecto de tratamento computacional da língua portuguesa concretizado em Oslo pela investigadora Diana Santos, Mariano Gago sublinhou a grande necessidade de sistemas computadorizados de apoio à aprendizagem da língua portuguesa. Deu como exemplo a China, onde há todos os anos milhares de estudantes interessados em aprendê-la e onde não há, sequer, falantes do português para os ajudarem.

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