Centenas de pessoas terão sido mortas durante revolta no Uzbequistão

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As mortes são atribuídas aos soldados enviados para reprimir a rebelião Iuri Kochetkov/EPA

As mortes são atribuídas aos militares enviados pelo Governo para reprimir a rebelião, iniciada quando um grupo armado libertou centenas de detidos de uma prisão de alta segurança da cidade e se apoderou da sede da sede da administração regional. A insurreição - que tinha como propósito inicial conseguir a libertação de empresários locais, acusados de ligações a grupos fundamentalistas islamicos - rapidamente se transformou numa contestação popular ao Presidente uzbeque, Islam Karimov, que há anos governa o país com mão de ferro.

“Esta manhã vi soldados carregarem três camiões e um autocarro com cerca de 300 corpos, na rua frente ao cinema”, afirmou Lutfulla Chamssutdinov, dirigente da Apellatsia, uma organização de defesa dos direitos humanos uzbeque. Segundo a activista, que diz ter assistido à cena de uma casa vizinha, “pelo menos um terço dos cadáveres eram de mulheres”.

Os números referidos pela activista são também apontados por vários populares ouvidos pelos enviados das agências internacionais que conseguiram entrar na cidade. Por seu lado, um médico disse ter contabilizado 50 mortos na morgue do hospital local, onde acorreram cerca de uma centena de feridos.

Contudo, o balanço oficial, divulgado esta manhã pelo Presidente uzbeque, aponta apenas para 30 vítimas e atribuiu a maioria das mortes aos rebeldes.

Um jornalista da AFP relata ter visto meia centena de cadáveres espalhados pelas ruas do centro da cidade, vinte dos quais na praça fronteira à sede da administração regional. No interior do edifício, que esta manhã permanecia vazio, eram visíveis inúmeras poças de sangue, o que atesta a violência dos combates ocorridos a noite passada entre os rebeldes e os militares.

Depois do assalto dos militares ao edifício da administração regional, vive-se uma calma tensa na cidade, apesar de não serem visíveis soldados nas ruas, relata a AFP. Centenas de pessoas procuram familiares desaparecidos, enquanto outros se juntaram na principal praça da cidade para rezar em memória dos mortos, 14 dos quais foram enterrados num jardim próximo.

Entretanto, a AP dá conta de incidentes junto à fronteira com o Quirguistão, para onde fugiram centenas de habitantes de Andijan. O correspondente da agência no local relata que a esquadra da polícia e vários edifícios públicos de Korasuv, uma pequena localidade fronteiriça, foram incendiados.

As autoridades do vizinho Tajiquistão encerraram ontem a fronteira com o Uzbequistão, mas centenas de pessoas, algumas das quais feridas, terão conseguido passar esta manhã a fronteira para o Quirguistão.

A insurreição de ontem foi atribuída pelas autoridades aos movimentos fundamentalistas islâmicos ligados ao ilegalizado partido Hizbi Tahrir, com crescente popularidade naquela região do país. Contudo, a representação do movimento (com alegadas ligações à Al-Qaeda e aos independentistas tchetchenos) no Reino Unido negou qualquer envolvimento na insurreição, acusando o Presidente de estar a tentar “desviar as atenções do assassinato a sangue frio de centenas de pessoas”, que saíram à rua para contestar a falta de democracia no país.

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