É o melhor filme de Wes Ander-son - mas suspeita-se que não vai ser objecto de "culto chic" como aconteceu ao filme anterior, "Os Tenenbaums". A melancolia do cinema do realizador (os seus "temas": família, filiação, fra-casso...) é aqui mais dificilmente aprisionável. A montagem trabalha sempre em termos de retenção, não permitindo nunca a "jouissance", cortando sempre os planos antes de uma eclosão, deixando filme e personagens a pairar numa imponderabilidade crónica. Há uma grandeza fal-hada, e isso não é apenas um véu que decora os rostos destes "bonecos" inadaptados. Ab- raça todo o filme, que faz seus os gestos de um modelo de cinema que desapareceu: Itália (o quente Mediterrâneo), cenário desta aventura de um documentarista marinho que perdeu as graças do mar, foi terra de mitos, foi terra de "peplum", horizonte onde se fixou um certo cinema americano, no final da Hollywood clássica, quando esbracejava sem remédio contra a desagregação, e é a terra dos estúdios da Cinecittà, em Roma (onde decorreu parte da rodagem de "Um Peixe fora de Água"), território dos fan-tasmas fellinianos. E assim a história de um documentarista marinho (muito Cousteau, mas muito Hemingway também) que persegue um tubarão-jaguar é o documentário da odisseia de um cineasta em direcção aos mitos que imaginou.
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