Medicamentos falsificados já são ameaça na Europa
Oito mil crianças nigerianas foram imunizadas contra a meningite, mas descobriu-se que as vacinas eram contrafeitas; e algo semelhante aconteceu com a vacina contra a poliomielite na Índia, enunciou Martijn ten Ham, do Ministério da Saúde holandês. Estas são realidades conhecidas em países em desenvolvimento mas que estão a chegar à Europa, alertou.
Na categoria de medicamentos contrafeitos incluem-se situações em que há inexistência de substâncias activas, os ingredientes indicados são errados, as embalagens são falsas, as quantidades de ingredientes activos são insuficientes ou os fármacos contêm componentes tóxicos, explicou o representante do Ministério da Saúde holandês.
Os perigos para a saúde ligam-se com a ineficácia de vacinações e tratamentos, a crescente resistência das bactérias aos antibióticos, possíveis intoxicações e a desconfiança em relação ao medicamento genuíno, continuou Ten Ham. O medo de ver a sua reputação danificada explica a razão porque só agora a indústria começou a falar do tema.
Hendrik De Jong, representante da indústria farmacêutica em França (Institut de Recherches Internationales Servier), referiu que os últimos números da Comissão Europeia indicam que a contrafacção de medicamentos surge em quarto lugar, a seguir às bebidas alcoólicas, cigarros e artigos de luxo.
Porque "é preciso minimizar o risco para a saúde pública da contrafacção na Europa", o Conselho da Europa - um órgão de defesa dos direitos humanos, com 46 membros e sede em Estrasburgo - criou uma comissão sobre o assunto e organiza, pela primeira vez, em Setembro deste ano, um congresso dedicado ao tema, explicou a sua responsável, Sabine Walser. Na sua opinião, a farmacovigilância europeia não está apta a detectar os efeitos adversos destes fármacos. Walser defendeu que os medicamentos, porque são bens caros, são cada vez mais atractivos para o crime organizado e as sanções existentes não são suficientemente dissuasoras.
O aumento da venda de fármacos através da Internet faz parte do problema, continuou, considerando ser essencial criar informações para que os compradores tomem boas decisões de compra perante tantas ofertas. O Conselho da Europa elaborou, por isso, um modelo de folheto que pode ser usado pelas autoridades para campanhas informativas.
O Ministério da Saúde francês já avançou com uma campanha nos media para alertar para o problema e foi difundido um folheto para o potencial comprador de produtos de saúde na Internet, notou o representante da indústria farmacêutica em França. Segundo De Jong, "os sistemas de controlo não são operacionais", havendo falta de preparação tanto dos profissionais de saúde como das autoridades (alfândegas e polícias), que não estão preparadas para detectar estes produtos e deveriam receber formação específica.