São Paulo enfrenta onda de chacina de mendigos
Cinco pessoas foram mortas nos últimos três dias na capital paulista. Pelo menos dez mendigos foram feridos e continuam internados. O Departamento de Homicídios e Protecção à Pessoa, que investiga os crimes, trabalha com duas hipóteses: a de uma acção espontânea de grupos de extermínio e a de que os assassínios estejam a ser financiados por comerciantes. O Ministério da Justiça ofereceu a colaboração da Polícia Federal para investigar os crimes.
Para a tarde de ontem estava previsto um culto ecuménico em memória das vítimas em frente às escadarias da Sé. "A nossa cidade está suja de sangue", disse o padre Julio Lancelloti, da Pastoral do Povo de Rua.
As primeiras agressões foram registadas na madrugada de quinta-feira. Dez homens foram agredidos com golpes na cabeça, provavelmente à paulada ou marretada, na região central de São Paulo. Quatro deles morreram. No sábado, um homem foi vítima, provavelmente, de uma bomba de fabrico caseiro, em Itaquera, na zona leste, e perdeu um dos dedos do pé.
Dados da própria Câmara Municipal de São Paulo apontam que o serviço de albergues não tem capacidade para atender a todos os sem-abrigo de São Paulo. Em 2003, de acordo com dados da Fundação Instituto de Pesquisas Económicas, havia 10.394 pessoas a viver nas ruas da cidade. Pouco mais de seis mil recorrem aos albergues da cidade. Outros quatro mil continuam a dormir na mesma situação em que foram vítimas os moradores atacados na noite de quinta-feira: em passeios, praças e viadutos. A secretária municipal de Assistência Social calcula que cerca de 2.00 sem-abrigo fiquem na região central.
Em nota divulgada sexta-feira, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmava que, a pedido do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entrou em contacto com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para "prestar solidariedade e oferecer o auxílio da Polícia Federal" para esclarecer a chacina. "A União, o Estado e o município não pouparão esforços para elucidar esse crime, encontrar os culpados e submetê-los ao crivo da Justiça", afirma a nota assinada pelo ministro Thomaz Bastos.