Segundo o historiador Joachim Fest, autor de uma das mais importantes biografias de Hitler, Ganz é o primeiro actor que conseguiu assimilar a personalidade do ditador, porque a sua representação "causa calafrios". "É realmente Hitler. Quando o vemos, sentimos calafrios", disse Fest.

A película, intitulada "Der Untergang" ("O Afundamento"), baseia-se nas memórias da secretária de Hitler, Traudl Junge, publicadas há dois anos num livro que figurou vários meses nas listas de "best-sellers", e na reconstrução histórica das últimas semanas do ditador feita por Fest.

O filme, produzido por Bernd Eichinger - o mesmo produtor de "O Nome da Rosa" e "A Casa dos Espíritos" - não é o primeiro sobre os últimos dias de Hitler.

Dez anos depois do final da Segunda Guerra Mundial, G. W. Pabst fez a primeira tentativa com "O Último Acto", que foi um fracasso na Alemanha.

Posteriormente, outros filmes protagonizados por estrelas como Alec Guiness (1972) e Anthony Hopkins (1980) abordaram o mesmo tema.

No entanto, na opinião de uma crítica a publicar na próxima semana na revista "Der Spiegel", aqueles filmes caíam num "humorismo involuntário" enquanto que a representação de Ganz dá à personalidade uma maior profundidade.

Mas a versão de Eichinger levantou outras questões: "Pode mostrar-se humanamente um monstro?", pergunta-se num comentário ao filme no popular diário "Bild", que afirma que ao fim de 150 minutos, o espectador está "emocionado, perturbado e irritado" perante um Hitler talvez "demasiado humano".

O próprio Ganz considera que a Alemanha já é suficientemente madura para suportar uma película da natureza de "O Afundamento" que mostra "criminosos, pessoas horríveis perdidas e ansiosas da morte".

Ainda que inicialmente tivesse pensado fazer um filme sobre o III Reich, o interesse de Eichinger foi-se, paulatinamente, transferindo para a personagem de Hitler.

O filme reconstrói os últimos 12 dias de Hitler, entre 20 de Abril e o dia 2 de Maio de 1945, e concentra neste período todos os tipos de pensamento de Hitler.

No livro de Fest este período é de 16 dias, mas Eichinger preferiu fazer corresponder o número de dias aos 12 anos do regime.