França: presença do Presidente argelino nas cerimónias do desembarque da Provence causa polémica
Este porto de guerra foi o principal palco do desembarque da Provence, que começou a 15 de Agosto de 1944, dez semanas depois do da Normandia, e no qual combateram centenas de milhares de soldados do exército de África, entre os quais inúmeros argelinos
Só ontem, o Quai d'Orsay tentou pôr um termo à polémica quanto ao convite feito ao Presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, e que demonstra que as feridas da guerra da Argélia (1954-62) não estão ainda cicatrizadas. Numa carta (não divulgada) endereçada aos sessenta deputados do partido maioritário UMP (União para um Movimento Popular) que assinaram uma petição de protesto contra a vinda a Presidente Bouteflika, o chefe da diplomacia francesa, Michel Barnier assegurou tomar "muito a sério" os seus protestos, sem todavia lhes ceder.
Para o deputado Claude Goasguen, da ala liberal da UMP, iniciador da petição, Abdelaziz Bouteflika deve ser considerado "persona non grata" em França até retirar a expressão "colaboradores" que tinha utilizado na sua última visita a Paris para designar os "harkis" - nome dado aos antigos soldados argelinos no exército francês durante a guerra de independência da Argélia, de 1954 a 1962.
Diversas associações de "harkis" e dos seus descendentes, assim como de "pieds-noirs" (nome dos retornados franceses da Argélia), protestaram também contra a vinda do Presidente argelino: "Abdelaziz Bouteflika ignorou sempre, e até ofendeu os que deram a vida para libertarem a França", argumenta a União Nacional dos "Harkis". Mas Paris manifesta grande interesse na presença do Presidente Bouteflika, que o seu homólogo francês, Jacques Chirac, foi felicitar pessoalmente a Argel pela sua reeleição, a 15 de Abril último.
"É útil especificar que nenhuma confusão deve ser feita entre esta página da história escrita em comum em Agosto de 1944 e outros acontecimentos posteriores, por mais dolorosos que sejam", declarou ontem, por seu lado, o Ministro para os Antigos Combatentes, Hamlaoui Mekachera, tentando deitar água na fervura.
Em Argel, diversos jornais ressalvaram a petição dos deputados franceses: "Jean-Marie Le Pen [dirigente francês de extrema-direita] não teria feito melhor...", escreveu o diário El Watan.
Mas outros convidados são também contestados, como o Presidente de Djibouti, Ismael Omar Guellen. O governante é acusado pela família de um juiz francês, Bernard Borrel, assassinado em Djibouti em 1995, de ter comanditado este crime. O Primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o vice-presidente americano, Dick Cheney, recusaram o convite francês.