Violência força o êxodo de milhares de etíopes para o Sudão
Muitos anuaks da região de Gambella, 450 quilómetros a ocidente de Addis-Abeba, caminharam durante três dias e encontram-se agora acampados numa escola e numa igreja da localidade de Pachala, em território sudanês, disse o director daquela agência, Myron Jesperson.
O conflito entre os anuaks e os nuers, pela posse de terras, causou pelo menos a morte a 57 pessoas; mas a imprensa etíope deu uma versão muito mais grave dos acontecimentos, alegando inclusive que o Governo embarcou no genocídio e limpeza étnica do povo anuak, que ocupava uma vasta superfície fértil junto à fronteira com o Sudão.
A polícia anda à procura do governador da região de Gambella, Okelo Okuaye, que desapareceu na sexta-feira, com os seus guarda-costas, tendo a oposição denunciado que ele fugiu para o Sudão, depois de lhe terem pedido contas pelas recentes chacinas.
Desde meados de Setembro, 500 a mil pessoas teriam sido mortas ou feridas às mãos das Forças Armadas, que têm actualmente perto de 5000 homens destacados na região, onde diferentes grupos étnicos competem pela posse da terra.
A repressão começou depois de um grupo radical anuak ter sido acusado do ataque a um veículo das Nações Unidas em que morreram oito pessoas, cujos corpos foram mutilados.
Centenas de casas foram incendiadas, tanto da etnia anuak como da manjanger, na repetição de uma tragédia que já ali se vivera nos anos de 2001 e 2002, sem que do caso se tenha falado muito no estrangeiro.
Um mosaico étnico com petróleoO Genocide Watch, grupo coordenador da campanha internacional para acabar com os genocídios, lançada em Haia (Holanda) em Maio de 1999, tem recebido numerosas notícias de chacinas do povo anuak, um dos vários que existem entre os 182 mil habitantes de Gambella A superfície deste estado é sensivelmente igual à do Ruanda, mas tem uma densidade populacional muito menor). No seu subsolo foi recentemente descoberto petróleo, a explorar pela associadas local de uma empresa canadiana.
A Etiópia, com mais de um milhão de quilómetros quadrados (duas vezes o tamanho da França), é essencialmente habitada por oromos, amharas e tigres. Tem ainda numerosos outros povos, como os sidamos, os shankelas, os somalis e os afars, num complexo mosaico difícil de administrar.
Perto de 40 por cento da população etíope, que totaliza 66 milhões de habitantes, segue o cristianismo ortodoxo e quase metade é muçulmana, havendo ainda um pequeno sector animista. De 1936 a 1941, o país foi ocupado pela Itália fascista, tendo o imperador Hailé Selassié - que se dizia descendente do rei Salomão (de Israel) e da rainha Makheda (de Sabá, na região etíope de Aksum) - sifo obrigado a exilar-se em Londres.