Extinção dos dinossauros azeda debate entre os cientistas

Gerta Keller, da Universidade de Princeton, nos EUA, analisou sedimentos recolhidos na cratera Chicxulub e disse ter observado neles microfósseis, que provam que muitas formas de vida microscópicas sobreviveram centenas de milhares de anos depois da colisão do meteorito. Estes resultados contrariam a tese de que foi o meteorito que matou os dinossauros e muitos outros seres vivos.

Outras causas, como vulcões, que atiraram grandes quantidades cinzas para a atmosfera, aquecimento global da Terra ou mudanças no nível do mar, são apontadas para a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos. Nesta perspectiva, a colisão não terá causado uma catástrofe a nível planetário.

Embora apoiada por muitos hoje, a tese do meteorito está longe de ser uma discussão encerrada e, inicialmente, não foi aceite com facilidade.

Em 1979, os investigadores Luís e Walter Alvarez propuseram a colisão de um objecto extraterrestre para explicar a extinção dos dinossauros e de outros seres vivos. Baseavam-se na observação de uma concentração elevada de irídio (30 vezes superiores ao normal) numa camada de argila encontrada num vale em Itália, perto da pequena cidade de Gubbio, nos montes Apeninos.

Esse excesso de irídio estava numa camada de argila que tinha por baixo uma camada de rochas datadas do fim do período Cretácico e, por cima, outra camada que assinalava o início do período Terciário - a altura a que corresponde a extinção dos dinossauros, e a que os geólogos chamam a fronteira KT. Ou seja, as iniciais, em inglês, de Cretácico e Terciário. Outro dado curioso é que, nas camadas geológicas antes da argila, encontraram-se fósseis de muitos animais, mas na camada de argila já não. Teria havido uma extinção em massa, portanto.

Depois, a anomalia do irídio foi detectada noutros sítios da Terra. Ora, este é um metal raramente encontrado na superfície da Terra, mas comum nos meteoritos. Mas faltava a prova do crime, a cratera, que confirmasse a tese do meteorito. Só foi descoberta no início dos anos 90, com base nos resultados de uma sondagem da empresa petrolífera mexicana Pemex.

Segundo esta visão da morte dos dinossauros, o meteorito, com mais de dez quilómetros de diâmetro, originou uma catástrofe global. Foram atirados para a atmosfera detritos e rochas vaporizadas, que cobriram a Terra e a tornaram escura e fria durante meses. Por causa dessas alterações climáticas ter-se-ão extinto muitas formas de vida, incluindo os dinossauros.

O geólogo Jan Smit, da Universidade Livre de Amesterdão, na Holanda, é um dos defensores da tese do meteorito. Discorda de Gerta Keller, dizendo que o aquilo a que esta chama fósseis são apenas esferas de cristal. Numa recente conferência da Sociedade Europeia de Geofísica, da União Americana de Geofísica e da União Europeia de Geociências, em Nice, França, a audiência ficou espantada pela forma como ambos discordaram tanto. A discórdia também teve a ver com o acesso aos sedimentos da cratera de Chicxulub.

Para resolver esta questão científica, há dois anos foi lançado um projecto para recolher sedimentos da cratera, na esperança de mostrarem se antes e depois do impacto pereceram muitas formas de vida. No ano passado, recolheram-se as primeiras amostras, que foram confiadas a Jan Smit. Este prometeu distribui-las pelos vários cientistas do projecto, mas um ano depois muitos continuavam à espera, conta o jornal britânico "The Observer".

Gerta Keller pressionou Jan Smit, até que conseguiu receber amostras suficientes. "Ele tentou atrasar os nossos resultados para não ser contestado na conferência", acusou a investigadora. Para Jan Smit, estas acusações são "ridículas", justificando que os atrasos se deveram ao facto de não ter tido tempo.

Mas a controvérsia científica em tornos de animais que não estão na Terra há muitos milhões de anos deverá continuar no próximo ano, quando os cientistas do projecto de estudo dos sedimentos da cratera de Chicxulub publicarem os resultados num número especial da revista "Meteoritics and Planetary Science".

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