Mulheres pedófilas: Não são só os homens que abusam de crianças
Os casos de pedofilia no feminino vão aparecendo: em Março deste ano, uma alemã de 50 anos foi condenada por abusar de um miúdo de cinco de quem era mãe de acolhimento; em Maio, começou a ser julgada uma ama australiana, acusada de ter violado duas bebés de 14 e 15 meses; e na Escócia era perseguida uma trabalhadora da área social, suspeita de mais de 60 crimes de abuso sexual de crianças - muitas com menos de quatro anos.
Em Portugal, há registo de pelo menos uma mulher condenada por abuso sexual de menor, neste caso a sua filha de 11 anos, embora fosse instigada pelo marido, pai da criança.
A psicóloga Marisalva Fávero fez, em Portugal, um estudo sobre abusos sexuais na perspectiva da vítima, que foi recentemente publicado com o título "Sexualidade infantil e abusos sexuais a menores" e que aponta para uma taxa de abuso de dez por cento por mulheres.
A psicóloga chegou a este número questionando um universo de 837 pessoas, residentes em Porto, Bragança e Évora, sete por cento das quais referiram ter sido vítimas de abusos sexuais - e dez por cento destas revelaram que o abuso tinha sido cometido por uma mulher.
Os números internacionais mais referidos por publicações de psiquiatria, que reconhece a existência da pedofilia feminina há pouco mais de uma década, apontam também para percentagens de abusos cometidos por mulheres entre cinco a dez por cento; podem ser mais altas (até 20 por cento) entre vítimas rapazes e mais baixas (cerca de cinco por cento) no caso de meninas.
"A mulher pode ser pedófila e agredir crianças mais pequenas, do seu meio e com quem convive, de um modo subtil, que visto de fora quase não se consegue identificar", diz a psicóloga, sublinhando que nunca lidou directamente com este tipo de casos. "Mas as crianças conseguem perceber que há alguma coisa errada, especialmente a partir de certa idade".
Motivos semelhantes aos dos homensA maior subtileza do abuso não significa que as consequências para as crianças sejam menores. "As crianças vítimas de abuso sexual perpetrados por mulheres apresentam os mesmos sintomas que as vítimas dos abusadores homens". Ficam sempre desconfiadas e na defensiva, por exemplo.
Também os motivos das mulheres pedófilas são parecidos com os dos homens: "Eles dizem todos que ninguém gosta mais das crianças do que eles, que estão a defender a libertação sexual da criança...Há mesmo quem viva a relação de abuso como a única relação de algum afecto."
As vítimas de abusos, quer de homens que de mulheres, até podem mencionar consequências positivas, diz Marisalva Fávero, mas este será um mecanismo semelhante ao da negação. "Nunca, em nenhum caso, me convenci de que o abuso foi realmente uma coisa boa. Um exame mais profundo destas situações levou-me sempre a verificar que se tratava de experiências sexuais na infância, com os pares e consensuais."
Em relação às mulheres pedófilas, "o que tem de se dizer é que existem", sublinha Marisalva Fávero. Quanto à desconfiança que essa afirmação possa provocar, a psicóloga responde: "Os homens também nem sempre abusam com penetração. Dos poucos casos descritos, as mulheres usam sexo oral, introdução de objectos, masturbação tocando os genitais ou outra parte do corpo da criança, etc."
A psicóloga explica ainda que é importante distinguir entre pedofilia e abuso sexual de menores, porque não são em rigor sinónimos. Até porque quando se fala de mulheres pedófilas está a referir-se uma pequena parte das abusadoras sexuais de menores, pois uma mulher pedófila tem uma preferência exclusiva por crianças.
O mito da mulher como figura protectora e cuidadora também se desfaz quando se considera a pedofilia feminina, mas Marisalva Fávero lembra que ele já antes estava destruído: "Basta olharmos para os números de maus tratos cometidos por mulheres".