Curso de Ciências do Meio Aquático já não permite dar o salto para Medicina

Só quando começaram as aulas é que a grande maioria percebeu que, afinal, os dois cursos já não têm um tronco comum. No segundo semestre, dos 35 estudantes admitidos em Ciências do Meio Aquático restaram apenas seis.

Este ano, para evitar “surpresas e dissabores”, o ICBAS decidiu publicitar a reforma curricular introduzida no ano lectivo passado. Para as escolas secundárias das regiões Norte e Centro seguiram cartazes onde, a letras vermelhas, se explica que a licenciatura em Ciências do Meio Aquático tem um “novo plano de estudos”. Pode ler-se também que as disciplinas do curso são independentes “das restantes licenciaturas do ICBAS desde o 1.º ano”.

O curso de Ciências do Meio Aquático foi criado em 1981 e os dois primeiros anos de formação foram delineados de acordo com o plano de estudos da licenciatura em Medicina, a funcionar no ICBAS desde 1975. “No primeiro e no segundo ano, a formação base dos alunos de Medicina e Ciências do Meio Aquático era exactamente a mesma. A diversificação dos percursos só acontecia no 3.º ano”, explica António Afonso, um dos coordenadores da licenciatura em Ciências do Meio Aquático.

As vagas disponibilizadas para Ciências do Meio Aquático – 25 inicialmente, 35 nos últimos anos – sempre foram preenchidas na totalidade, mas desde cedo os alunos perceberam que, devido ao tronco comum dos dois cursos, podiam pedir transferência para o curso de Medicina do ICBAS e de outras escolas do país. Mas a “fuga”, como a classifica António Afonso, tem vindo a agravar-se nos últimos anos. De tal maneira que serão pouco mais de 40 os alunos actualmente inscritos em todos os anos da licenciatura. O número de diplomados que saíram do ICBAS também é ilustrativo: em 22 anos, licenciaram- se em Ciências do Meio Aquático pouco mais de 200 alunos.

“A evolução dos dois cursos obrigou a que se afastassem e que ganhassem mais especificidade em termos de ensino”, adianta António Afonso. No ano passado, o tempo de formação de Ciências do Meio Aquático encurtou – os cinco anos de curso deram lugar aos actuais quatro –, e foi criado um currículo específico. Agora, a licenciatura está dividida em dois ciclos: no primeiro, são ministradas as disciplinas de carácter básico, que oferecem aos alunos uma sólida preparação em Biologia e Ecologia, entre outras; no segundo, as matérias têm um carácter científico mais específico.

O concurso de acesso deste ano deverá ser a prova de fogo do curso de Ciências do Meio Aquático. Em disputa estarão as mesmas 35 vagas e é de esperar que menos alunos se candidatem com o intuito de sair depois para Medicina. António Afonso está confiante de que se esgotarão todos os lugares. “Licenciaturas de outras escolas semelhantes à nossa preenchem sempre todas as vagas”, diz o professor.

Por outro lado, não é de excluir que, durante estes anos, tenham ficado de fora estudantes que pretendiam de facto tirar aquele curso, mas que não conseguiram devido às médias altíssimas dos aspirantes a um lugar em Medicina.

António Afonso nota ainda que “as cada vez maiores preocupações com o ambiente vão exigir cada vez mais profissionais”. “Nesta área, as hipóteses para o futuro são muito vastas”, acrescenta.

Há dois anos, o ICBAS quis saber a taxa de integração no mercado de trabalho dos seus licenciados. Os resultados foram animadores: “É talvez um bocado de vaidade nossa, mas a verdade é que praticamente não há desemprego nesta área, porque as saídas profissionais são muitas”, refere António Afonso. Para além dos licenciados que seguiram o caminho da investigação, o ICBAS encontrou ex-alunos a trabalhar em vários museus e aquários, nacionais e estrangeiros, e em diversas indústrias de transformação de pescado e aquacultura.

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