Indústria têxtil perdeu 42 mil postos de trabalho nos últimos quatro anos
Os dados referentes a 2002, e ainda preliminares (como os de 2001), expressam bem essa tendência, com o número de trabalhadores no sector a cair 5,1 por cento quando, em igual período, a indústria transformadora registou um decréscimo de 3,7 por cento. Isto num ano claramente mau para a ITV portuguesa, que viu as suas exportações recuarem 3,7 por cento para os 4.885 milhões de euros, a produção cair 4,9 por cento e as importações decrescerem três por cento, para os 3.209 milhões, apesar de no segmento do vestuário terem subido 8,2 por cento. Conforme refere o directorgeral do Cenestap, “nos últimos três anos o número de postos de trabalho na ITV tem diminuído a uma taxa média anual de 5,7 por cento”, taxa esta “superior à média anual dos últimos oito anos — menos 2,9 por cento”.
Exportação em quebra
Manuel Teixeira avança com algumas causas para este acréscimo: “O volume exportado pelo sector da confecção tem diminuído, o que resulta numa libertação de mão-de-obra e no encerramento de empresas porque não foram capazes de alterar a sua oferta ou porque passaram a ser menos rentáveis em termos comparativos com outros países”. Mas não só. “Num ambiente de forte concorrência e instabilidade nos mercados, as empresas da indústria têxtil e de vestuário de maior dimensão preferem reduzir custos fixos e subcontratar parte da produção”, para além do “investimento em alta tecnologia” permitir que as empresas mantenham “os níveis de produção com menos recursos, sobretudo pessoal”, acrescenta o responsável do centro de estudos.
Números que não causam, portanto, espanto no sector, até porque não faltam estudos que dão como certo o aumento do desemprego e a perda de competitividade caso os empresários da ITV não assumissem uma postura pró-activa. Para o presidente da Associação Portuguesa de Têxteis e Vestuário (APT), José Alexandre Oliveira, “não pode haver a intenção de que o têxtil vai continuar a ter a quota que tinha”, recomendando, aliás, uma leitura do estudo realizado pela Kurt Salmon Associates e pelo BPI sobre o impacto, fortíssimo, da liberalização do comércio mundial de têxteis e vestuário, agendada para 2005, na indústria portuguesa (ver caixa). “Muito do que lá está [no estudo] passou-se”, avançou.
Culpas repartidasQuestionado sobre se os industriais portugueses não tiveram em devida consideração o estudo e as recomendações nele constantes, José Alexandre Oliveira frisou: “A culpa não é só dos empresários, é também dos sindicatos e das entidades governamentais”.
Quanto ao futuro do sector, concretamente à capacidade de, antes de 2005, os empresários conseguirem pôr em marcha as reformas necessárias — promover “joint-ventures”, apostar em marcas próprias e dotar os produtos de maior valor acrescentado — o presidente da APT, dada a actual situação geopolítica, desabafou: “Estou extremamente preocupado [referindo-se ao conflito no Iraque]. Como se costuma dizer, o que hoje é verdade, amanhã é mentira”.
Na mesma linha de raciocínio, o presidente da recém-criada ANIVEC/APIV — Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção, começa por adiantar ao PÚBLICO que, só nos últimos 15 anos, a ITV europeia “perdeu mais de um milhão de postos de trabalho”. Para Fernando Aurélio, a actual situação fica a dever-se à “globalização da economia, à redução gradual das tarifas aduaneiras, ao 11 de Setembro, ao aumento do poder das multinacionais que pressionam os preços, à deslocalização e ao aumento do fornecimento proveniente do continente asiático”.
Mesmo assim, o líder associativo afirma acreditar, “convictamente, que Portugal é um óptimo produtor e exportador da ITV e vai continuar a sê-lo”, frisando, no entanto, que, para tal, terá que apostar numa “cultura de valor, no desenvolvimento e concepção de produtos e em gestores qualificados”. Mas não só, porque, salienta, a “produtividade, que está 60 por cento abaixo da média comunitária, tem que subir”.