Aerosoles deslocaliza do Leste... para o Leste

Grupo quer transferir produção da Ucrânia e Polónia para a Roménia. Fábricas em Portugal serão mantidas. "Não troco Portugal por cinco tostões", garante o presidente António Duarte.

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No meio desta panóplia, fenómeno este que já foi mesmo baptizado de "investimento de beduíno", o PÚBLICO encontrou um caso de deslocalização, no mínimo, "sui generis", ou seja, de transferência de produção do Leste... para o Leste. Isso mesmo o vai fazer a Aerosoles, empresa de calçado líder em Portugal, que, como sublinha o seu presidente, Artur Duarte, está determinada a "produzir em Portugal e nos países emergentes" e não a "produzir em Portugal ou nos países emergentes".

Conforme explica ao PÚBLICO Artur Duarte, a Aerosoles vai transferir a produção que tinha subcontratada na Ucrânia e na Polónia, por perda de massa crítica, para a Roménia. Assim, e já a partir de Maio, o grupo português subcontratou a uma empresa romena a produção que estava a ser feita naqueles dois países de Leste, mas não só. Isto porque o grupo vai também avançar com a produção de um novo produto - modelos que são injectados directamente à sola -, um investimento que, segundo avança o empresário, não se justificava fazer em Portugal. "Cada máquina destas custa cerca de 500 mil euros e na Roménia têm duas máquinas, por isso poupamos um milhão de euros, para além de que ainda é mais barato. Para se ter cá essas máquinas é preciso ter uma capacidade mínima de produção, por isso é melhor deslocalizar".

Quanto à tão badalada deslocalização, Artur Duarte deixa bem claro: "Não troco Portugal por cinco tostões. Tenho que ter uma vantagem de pelo menos dez por cento postos os sapatos no cliente, caso contrário não transferimos a produção". O objectivo, conforme avança, é ter dez por cento da produção concentrada na Roménia, uma pequena parte no Vietname (em 2002 produziram lá 400 mil pares de sapatos) e tudo o resto em Portugal - entre 4,5 a cinco milhões de pares. "Em velocidade cruzeiro queremos produzir entre 250 e 500 mil pares na Roménia, mas o grosso continua cá", frisa Artur Duarte. Por último, de referir ainda que alguma produção que o grupo tinha subcontratada no Sri Lanka também será deslocalizada para a Roménia.

Vendas na Alemanha disparam

Num ano - 2002 - que deixou poucas saudades nos mercados, a Aerosoles conseguiu aumentar as suas vendas em 2,7 por cento para os 76,5 milhões de euros. O maior crescimento foi mesmo para o mercado alemão, cuja quebra no consumo levou empresas como a Gerry Weber a fechar ou como a Rhode a reduzir a produção em Portugal. Em claro contraciclo, a Aerosoles viu as suas vendas para a Alemanha aumentarem 80 por cento. Uma conquista, para Artur Duarte, que justifica o sucesso no "preço mais competitivo e agressivo" que a empresa oferece "num país que está em crise".


Mesmo assim, o empresário não se mostra muito satisfeito com os resultados alcançados pela Aerosoles: "As minhas expectativas eram superiores, mas o segundo semestre acabou por ser mais negativo". Nos mercados externos, o grupo registou uma quebra de 11,2 por cento no Reino Unido, devido a dificuldades de escoamento do "stock", mas cresceu 34,2 por cento para o Benelux, 74 por cento para a Noruega e 42,3 por cento para a França.

Para o corrente ano, Artur Duarte espera registar um acréscimo nas vendas da ordem dos 6,7 por cento e chegar aos 80 milhões de euros na distribuição. Para o efeito, abriu, na passada sexta-feira, a sua 55.ª loja, desta vez no Centro Comercial Colombo, sendo que ainda este mês irá abrir uma loja franchisada em Mainz, na Alemanha. Para os próximos meses a Aerosoles tem ainda planeada a inauguração de uma loja própria em França e de três franchisadas, em Israel, Roterdão e Cascais. O objectivo, conforme frisa Artur Duarte, é chegar ao final do ano com uma rede de lojas entre as 60 e as 65.

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