Hospital de S. João realiza primeiro tratamento cirúrgico da doença de Parkinson em Portugal

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A operação implica a introdução de um ou dois eléctrodos, que geram impulsos eléctricos dirigidos a zonas específicas no cérebro, para parar os tremores característicos da doença Fonte: Medtronic

A operação, que durou cerca de oito horas, consiste na introdução de eléctrodo em zonas específica do cérebro capazes de controlar os sintomas da doença, explicou Rui Vaz, o coordenador do projecto iniciado em 1999.

A doença de Parkinson ocorre quando há um defeito numa determinada zona cerebral - os núcleos cinzentos de base - muito importante para o controlo das funções motoras complexas. Neurotransmissores como a dopamina deixam de se formar adequadamente. Quando essas alterações acontecem, o indivíduo perde progressivamente a harmonia dos movimentos. Daí os tremores e a rigidez dos músculos.

Esses sintomas podem ser controlados com tratamento médico, mas em muitos casos os comprimidos deixam de fazer efeito. O tratamento cirúrgico, agora disponível em Portugal, pode ser eficaz justamente nas situações em que os químicos deixam de funcionar.

A estimulação cerebral profunda, como é conhecida a técnica, consiste na implantação de um ou dois eléctrodos num ponto específico dos núcleos cinzentos de base - o núcleo subtalâmico, que possui apenas alguns milímetros de diâmetro.

Os eléctrodos são ligados por cabos subcutâneos, que passam por trás da orelha, a um neuroestimulador eléctrico. Este aparelho funciona como um "pace-maker" cardíaco e tem o tamanho de uma caixa de fósforos. Fica acomodado, sob a pele, abaixo do tórax. Essas pequenas peças produzem estímulos eléctricos que reduzem significativamente os tremores e outros sintomas da doença de Parkinson.

O primeiro português submetido a essa cirurgia tem 47 anos. "É um homem activo e inteligente, cuja actividade profissional estava a ser prejudicada pelos sintomas da doença", conta Rui Vaz. Sofreu a intervenção cirúrgica há quatro dias e atravessa agora uma fase de recuperação "excelente", por ora ainda na Unidade de Cuidados Intensivos. "Mas em breve passará para o quarto, para ter o apoio da família". E talvez já possa regressar a casa na próxima semana.

Rui Vaz afirma que o sucesso do projecto deveu-se sobretudo à aposta que a direcção do Hospital de São João fez, há três anos, no projecto. "Foi um desafio conseguir a verba necessária para a aquisição do equipamento, no valor de 175 mil euros. Além disso, cada paciente implica um custo de 25 mil euros, o que pode até parecer caro, mas não é. A melhora da qualidade de vida do doente permite reaver esse valor em quatro anos, dada a conquista de autonomia, a reabilitação laboral e a redução do gasto com remédios", explica.

O objectivo agora é realizar a estimulação cerebral profunda num doente por mês. Em 2003, consoante os meios financeiros, esse número poderá passar para dois por mês.

A estreia da estimulação cerebral profunda em Portugal vai animar, certamente, muitas pessoas que sofrem da doença de Parkinson. No entanto, Rui Vaz frisa que apenas uma parte dos pacientes é susceptível de tratamento cirúrgico. "A escolha do doente deve obedecer a um protocolo muito estrito. São muitos os requisitos que devem ser levados em conta pelo neurologista: tempo de doença, a resposta que obteve dos medicamentos e o estado mental, por exemplo", afirma o médico, que estima que surjam, a cada ano, de 70 a 100 pacientes passíveis de serem operados.

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