Esta operação desenrolou-se em duas fases, incidiu em três concelhos da província de Limburgo, Leste da Bélgica e foram detidos dois homens e uma mulher.

De acordo com o porta-voz do Ministério Público de Tronges, a transportadora belga encarregue de entregar algumas embalagens de arte tailandesa, remetidas por elementos da rede, desconfiou que se tratava de um produto ilegal e avisou as autoridades aduaneiras inglesas, que abriram as embalagens, descobriram anabolisantes e avisaram a Bélgica. "Na segunda-feira, a transportadora avisou que um novo carregamento deveria partir a caminho do Reino Unido. É possível que a Espanha seja igualmente um dos destinatários preferenciais", concluiu aquele responsável.

Os esteróides posteriormente encontrados pela polícia belga estavam acondicionados em ampolas e píluas, colocadas dentro de caixas de madeira e papelão, cujos destinos seriam seis países europeus. As autoridades daquele país já libertaram dois suspeitos, mas um continua detido por infracção à lei dos anabolisantes" – a imprensa belga afirma tratar-se de um holandês como residência na Bélgica. Foram ainda apreendidas armas, informação não confirmada pelo Ministério Público.

Os esteróides anabolisantes têm dois tipos de consumidores: frequentadores de ginásios e atletas profissionais. Nos últimos anos, o anabolisante mais em voga tem sido a nandrolona, principalmente porque foi causa de diversos controlos "anti-doping" positivos essencialmente no futebol europeu. Os esteróides têm a capacidade de produzir um aumento da síntese de fosfato de creatina, um composto essencial para a formação de ATP, uma fonte básica de energia que permite a contracção muscular: quanto maior a energia acumulada, maior a disponibilidade nos exercícios e mais fácil a recuperação física. Este género de substância pode provocar ainda uma intensificação do fluxo sanguíneo, até 20 por cento, de modo a melhorar o fornecimento de nutrientes à massa muscular. Para que a eficácia aumente, o atleta consome o esteróide em ciclos de seis semanas — 50 miligramas em cada dois dias —, no caso da nandrolona administrada por via intramuscular, a primeira a surgir no mercado e a menos utilizada actualmente.

No entanto, os efeitos secundários provocados por este tipo de substância são vastos e perigosos. Um dos mais comuns é a retenção de água, que pode causar hipertensão. Para combater este efeito, os atletas consomem diuréticos (também proibidos), substâncias que obrigam à expulsão de água por parte do corpo e disfarçam o consumo de dopantes. Nos homens, o atrofio dos testículos é um dos efeitos mais graves: com o consumo dos esteróides, o corpo deixa de sentir necessidade de produzir testosterona, os testículos perdem uma das suas principais funções. A produção de espermatozóides decresce bastante e pode-se chegar à esterilidade total. Mas aqui há a possibilidade da realização de um tratamento hormonal... O consumo de esteróides provoca ainda graves problemas no funcionamento do fígado — a perda considerável de peso é quase certa —, o aumento do volume da próstata, acne que deixa marcas irreversíveis na pele e calvície prematura. Nas mulheres, regista-se ainda uma virilização, ou seja, um aumento de características masculinas.

Nos ginásios, os anabolisantes são bastante usados, essencialmente por culturistas. Em Maio, a Comissão Europeia divulgou um relatório em que se chega à conclusão que 5,7 por cento dos frequentadores de ginásios em Portugal, Alemanha, Itália, Bélgica, Áustria e Suíça, consomem esteróides. Portugal excede bastante a média destes países, com 19,5 por cento.

Em Fevereiro, Luís Horta, em entrevista ao PÚBLICO, revelou que a maior parte do tráfico se realiza através do correio, mas, como confirmou a Polícia Judiciária, as leis portuguesas ainda não permitem a esta entidade dar atenção especial ao fenómeno, cada vez mais ligado ao tráfico de droga.