Jorge Araújo afasta-se do sector intelectual do PCP

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Ao PÚBLICO, Jorge Araújo confirmou a demissão da direcção do sector intelectual e a permanência como militante de base Público

Embora tivesse desde há muito uma visão crítica da forma de funcionamento do sector intelectual do partido, uma visão que perfilhava independentemente das turbulências por que passa actualmente o PCP, Jorge Araújo decidiu afastar-se desta estrutura, mantendo, no entanto, a condição de militante comunista.

Ao que o PÚBLICO apurou, a gota que fez transbordar o copo ocorreu há cerca de um mês, numa reunião do sector intelectual, quando um jovem militante comunista lançou um violento ataque aos membros do PCP que dizem coisas para os jornais, subscrevem abaixo-assinados e fazem trabalho fraccionário.

Jorge Araújo ficou incomodado com a hostilidade e a agressividade que a linguagem utilizada pelo jovem militante denunciava, tanto mais que não é habitual no PCP a personalização das críticas, o que, segundo fontes contactas pelo PÚBLICO, só é explicado pelo facto de se viver no partido um clima de "caça às bruxas".

Ao PÚBLICO, Jorge Araújo confirmou a demissão da direcção do sector intelectual e a permanência como militante de base, mas não quis revelar as razões que estiveram por trás da sua decisão.

Jorge Araújo pertenceu à Comissão Política e ao Secretariado do PCP e durante a clandestinidade foi um destacado dirigente. Chegou a estar vários anos preso pela PIDE e até protagonizou uma fuga da cadeia. O histórico militante comunista, que foi um dos braços- direitos de Álvaro Cunhal, tendo sido mesmo o autor das notas que levaram à expulsão do PCP de Barros Moura e José Luís Judas, entre outros, tem vindo desde então a afastar-se da chamada ortodoxia, sendo agora conotado com a ala renovadora.

Enquanto editor da "Campo de Letras", Jorge Araújo foi o responsável pela publicação de "Páginas Tantas", um livro de Carlos Brito, outro histórico dirigente comunista conotado agora com a ala renovadora, que recorreu a Araújo depois de um alegado boicote das editoras que trabalham mais directamente com os comunistas. Recentemente, a "Campo da Comunicação", outra editora à qual o militante comunista está ligado, editou o livro de João Amaral "Rumo à Mudança".

Organismos de Coimbra querem congresso

O sector intelectual e a organização dos médicos do PCP de Coimbra aprovaram sexta-feira, em assembleia plenária, um documento que defende a convocação de um congresso e que será levado à Conferência Nacional do partido dia 22 de Junho.

A proposta - aprovada pela maioria dos cerca de 30 militantes presentes - sublinha que o PCP atravessa "um momento particularmente difícil" e que se torna necessário o debate interno baseado em análises informadas da realidade e "não análises empíricas". Mais: deve abranger "todos os aspectos relevantes da vida e actividade do partido", como o programa e os estatutos. Os subscritores consideram que, num quadro de regresso da direita ao poder, é necessária a actualização do programa para fixar a estratégia a longo prazo e dos estatutos para "aperfeiçoar" a organização do PCP e aumentar "a eficácia da sua intervenção". É por isso que defendem o agendamento do congresso.

O texto será enviado à direcção do PCP para ser incluído nos documentos de trabalho da Conferência Nacional. A assembleia plenária elegeu ainda um delegado e um suplente à conferência.

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