É uma telenovela

Finalmente, em Portugal, o tão falado e tão aclamado "Central do Brasil". Urso de Ouro em Berlim no ano passado, nomeações para os Óscares do Melhor Filme Estrangeiro e para a actriz Fernanda Montenegro, e um fenómeno que, um pouco por todo o lado, de Paris a Nova Iorque, lançou "dossiers" sobre o "renascimento do cinema brasileiro". Serão esses os factos. O filme galvanizou mesmo a produção cinematográfica brasileira, dada como morta nos anos 80. É um fenómeno que não se pode ignorar.

E o filme? Só por ele não se percebe o entusiasmo, que começou até na fase de escrita do argumento quando recebeu um prémio no Festival de Cinema Independente de Sundance. É uma telenovela, realizada com um maquinismo cinematográfico "pronto-a-filmar", árido e previsível. Sim, Fernanda Montenegro é tão boa como o é habitualmente na televisão; sim, Marília Pêra tem um "número" irresistível; sim, é humano não conter as lágrimas perante esta história de uma mulher sem paciência que faz a aprendizagem das emoções quando acompanha um miúdo, orfão de pai, através do Brasil à procura do pai. Isso não está já em qualquer telenovela brasileira? É por isso que se evoca o "Cinema Novo" da década de 70 e o sacrossanto nome de Glauber Rocha? Por causa do miserabilismo feito bilhete postal exótico? Sim, é um filme a ver. Para se desfazerem os equívocos.

Sugerir correcção
Comentar