É um espectáculo de feira, mais do que uma comédia musical. Com "Moulin Rouge", o australiano Baz Luhrmann faz de cada plano uma ordem de silêncio a qualquer ideia de contenção. É kitsch, kitsch, bang, bang, e quem tiver fôlego que acompanhe, se puder, esta história de amor entre uma cortesã (Nicole Kidman) e um poeta (Ewan McGregor) no antro da perdição e do cancan que é o Moulin Rouge.
É o século XIX mas a revolução boémia é feita com um compacto da pop do século XX, um corte-e-cola de canções dos Beatles, Kiss, Phil Collins, U2, Bowie, Elton John, Marilyn Manson, Police ou Marc Bolan.
Luhrmann também quis ser aqui o Pigmaleão de Kidman, oferecendo-lhe o papel de uma cortesã, Satine, e dando-lhe o centro do palco. O realizador quis quebrar a frigidez do ícone, impondo alterações súbitas de temperatura, fazendo-a abrir-se à inocência efervescente (como se ela pudesse ser Marilyn...) ou cobrir-se com os véus da fatalidade (como se ela pudesse ser Marlene). Kidman deslocou um tornozelo, fracturou vértebras durante a rodagem, mas é preciso muito mais do que isso para subir às alturas pretendidas. Valeu o esforço, de qualquer forma, e isso até a tornou mais humana.
O filme é percorrido por uma energia impossível: como se quisesse fazer de cada projecção um espectáculo "live", à espera da participação, das palmas e do coro, dos espectadores. A interactividade é impossível, mas esse é um risco assumido por "Moulin Rouge" e é esse esforço inglório que o distingue.