Diário "Hoje Macau" substitui "Macau Hoje"
O director do "Hoje Macau", Carlos Morais José, disse ontem, ouvido pela Lusa, que o novo jornal se assume como depositário da "herança espiritual" do "Macau Hoje" e de "um certo estilo, crítico, independente e irreverente" com tradições históricas na imprensa portuguesa de Macau.Carlos Morais José, que era colaborador do "Macau Hoje", adiantou que o estatuto editorial do novo jornal assumirá a independência e o estilo crítico como principais orientações, "com o objectivo de espelhar os anseios e as opiniões da população de Macau, assumindo também a defesa da língua portuguesa enquanto língua oficial da Região Administrativa Especial".
O novo diário, em formato tablóide, terá uma redacção com três jornalistas a tempo inteiro, contando também com cinco colaboradores permanentes.
O "Hoje Macau" é editado pela sociedade "Fábrica de Notícias", constituída por um grupo de accionistas privados, cujo número e identidade não foram revelados. O gerente da sociedade, João Severino, que era director do "Macau Hoje", disse onem ter sido convidado para gerir a "Fábrica de Notícias" sem deter qualquer participação financeira na empresa.
Na sua primeira edição, o "Hoje Macau" revela que o palácio da Bela Vista, residência do Cônsul-Geral de Portugal em Macau, não pertence a Portugal. Segundo o diário, o edifício foi arrendado gratuitamente, até 2049, revertendo depois para a posse da Região Administrativa Especial de Macau.
O Cônsul-Geral, Carlos Frota, disse, entretanto, à Lusa que o regime de propriedade da residência consular "não é novidade, foi uma solução alcançada no Grupo de Ligação conjunto Luso-Chinês [o órgão que preparou a transferência da administração de Macau de Portugal para a China em 19 de Dezembro de 1999]". O certo é que o acordo alcançado no Grupo de Ligação nunca chegou a ser publicitado em Macau e pensava-se que o antigo Bela Vista, um
ex-libris arquitectónico de Macau, era definitivamente português.
O "Macau Hoje" saiu na passada sexta-feira pela última vez para as bancas, encerrando após doze anos de publicação devido a problemas financeiros decorrentes do pagamento de multas e indemnizações relacionadas com acções legais.Nos últimos anos, o jornal foi alvo de mais de uma dezena de acções judiciais, a maioria das quais movidas pelo advogado Jorge Neto Valente, por alegadas violações da liberdade de imprensa e difamação.
Com a substituição do "Macau Hoje" pelo "Hoje Macau", a imprensa portuguesa da Região Administrativa Especial de Macau mantém-se com dois diários (o novo periódico e o "Jornal Tribuna de Macau") e dois semanários (o "Ponto Final" e "O Clarim").
A imprensa de Macau em língua chinesa é constituída por oito diários e seis semanários.