Porventura, a melhor definição para o último filme de Wong Kar-wai veio de uma Maggie Cheung ainda a tentar lidar com a imprevisibilidade dos resultados de 15 meses de rodagens e intermináveis reconversões: "Como se ele tivesse reservado os momentos mais insignificantes da vida das duas personagens." "Disponível para Amar" é um filme de suspensões, de duplo sentido (a começar pelo título), de duplos, em última instância (como, afinal, quase toda a filmografia do realizador). Na Hong Kong dos anos 60, um homem e uma mulher aproximam-se quando descobrem que os respectivos cônjuges têm uma ligação amorosa. "Não vamos ser como eles", prometem. E, no entanto, ensaiam: quem terá dado o primeiro passo? Não sabemos - nem sequer, que relação, afinal, existiu entre as personagens de Cheung e Leung (o segredo é sussurrado para um buraco em Angkor Vat). É um filme que acusa um certo artificialismo? Sim, é, sobretudo nos excessivos reenquadramentos da primeira hora, mas que Kar-wai suspende, a seguir, para irromper em valsas compassadas. E, apesar disso, é, porventura, o mais consistente filme da sua carreira.
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