Trata-se de uma aposta radical na claustrofobia de um espaço que abre para a vida inteira: uma das figuras centrais de "Ossos" torna-se o motivo e o centro de uma arriscada ficção documental. E o mais deslumbrante é espreitar o quotidiano de uma figura entre o real e o ficcionado, dupla de si própria, num mundo em destruição: os ruídos da destruição do Bairro das Fontainhas contaminam o nosso olhar e a nossa percepção de uma sobrevivência estranhamente "feliz". É que o filme recusa o miserabilismo e constrói um belíssimo contraponto pictórico (Rembrandt, Caravaggio ou Georges de la Tour espreitam) que revivifica o mundo sem horizontes de Vanda. Marca de uma coerência extrema, que sintetiza toda a obra de Pedro Costa (de "O Sangue" até "Ossos", passando por "Casa de Lava"), é um seminal acto de amor e de obsessão.
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