Governo português sabia do uso de urânio empobrecido no Kosovo
"Depois de terminada a acção de guerra, o briefing da Kfor identificou e comunicou os locais onde houve bombardeamentos com munições de urânio empobrecido, mas não foi considerado que havia grau de ameaça nuclear", afirmou Castro Caldas.O Governo terá recebido da Kfor toda a documentação e um mapa com indicações dos locais onde tinham sido usadas munições de DU em Junho de 1999 - um mês antes de partir o primeiro contingente português para o Kosovo.
O gabinete do primeiro-ministro, António Guterres, já reagiu às afirmações de Júlio Castro Caldas, afirmando que "em momento algum ocultou informação" e que "todos os relatórios da NATO apontavam que os riscos eram globalmente negligenciáveis".
O General Espíríto Santo, na altura chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, recusou-se a prestar declarações, acentuando apenas que a decisão de enviar militares para o Kosovo "foi tomada no âmbito da Aliança Atlântica".
O estado de saúde e a preocupação crescente dos militares portugueses que cumpriram (e cumprem) missões nos Balcãs e dos seus familiares levaram o Presidente da República, Jorge Sampaio, a convocar para esta tarde o Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN).
O CSDN vai analisar a situação nos Balcãs, à luz das revelações sobre alegados efeitos nocivos do urânio empobrecido na saúde dos militares.
Na reunião, além de Jorge Sampaio, participará também Ferreira do Amaral, candidato às presidenciais, que foi indicado pela Assembleia da República.
Entretanto, os familiares e amigos de militares portugueses nos Balcãs exigiram hoje a suspensão da participação de portugueses em missões de paz nos países da Ex-Jugoslávia.A iniciativa partiu da recém criada Associação de Familiares e Amigos de Militares Destacados para os Balcãs e visa "pressionar as autoridades políticas e militares a suspender a participação de militares portugueses nas missões de paz nos Balcãs".
Para os pais dos militares portugueses é prioritário "diagnosticar claramente a causa dos problemas de saúde vividos por militares que estiveram ao serviço naquela região"."Sem isso, o envio de militares portugueses para a península balcânica é perfeitamente irresponsável ou indiciador de um grande desprezo pela vida humana", considera Luís Filipe Guerra, que assina o comunicado da Comissão Promotora da Associação.
O comunicado, citado pela Lusa, conclui que o importante é "denunciar a desinformação e a manipulação que as chefias militares estão a fazer junto do contigente militar português, fazendo-lhe crer que as vidas não correm riscos acrescidos".
Perguntas e respostas sobre o Kosovo e as munições usadas pela NATO O urânio empobrecido é um subproduto do urânio natural, usado para fins militares (armas e submarinos nucleares) e civis (centrais nucleares). Segundo a NATO, o urânio empobrecido é 40 por cento menos radiactivo que o urânio existente no ambiente. O urânio natural existe no meio ambiente, em quantidades maiores ou menores dependendo das zonas e da sua respectiva geografia e características do solo. Por exemplo, em Portugal, a Guarda apresenta níveis de urânio natural muito superiores que os de Faro. Não existe, no entanto, um maior perigo para as populações. Uma das principais vantagens da utilização do urânio empobrecido na fabricação de armamento advém do facto de ser quase gratuito, uma vez que se trata de uma espécie de resíduo da indústria nuclear. Para além disso, quando disparado a 1641.18 quilómetros por segundo, é capaz de furar tanques e desfazer blocos de cimentos enterrados a três metros de profundidade. O Ministério da Defesa (MD) americano justificou o uso das munições de urânio empobrecido (DU) num relatório publicado por Bernard Rostker, em Julho de 1998. Nesse documento o MD americano afirmava que "o urânio empobrecido desempenhou um papel fundamental no sucesso das tropas americanas durante a Guerra do Golfo". Estas munições ficaram conhecidas entre os militares como 'balas de prata' pela sua vantagem letal contra os tanques inimigos. O relatório explica ainda que as munições de DU disparadas por aviões A-10 Warthogs e por tanques americanos destruíram milhares de veículos de combate inimigos, sem soferem uma só baixa. "Durante a Guerra do Golfo, o urânio empobrecido ajudou as tropas americanas a combater mais eficazmente e a defender-se com mais confiança", conclui o documento do Ministério da Defesa. As munições de urânio empobrecido usadas no Kosovo e na Bósnia pela NATO pertencem à categoria GAU-8/A (série PGU), preparadas para o canhão GAU-8/A Gatling de 30 mm. Da série PGU, a NATO usou preferencialmente a High-Explosive Incendiary PGU-13/B, que tem cerca de 29 cm (o comprimento de uma folha de papel) e pesa 378 gramas. A PGU-13/B tem uma velocidade de tiro de 1641.18 quilómetros por segundo e um penetrador de urânio empobrecido de alta densidade. A NATO usou nos bombardeamentos os aviões antitanque A-10 Warthogs. O urânio empobrecido é um metal pesado, muito denso. Quando as munições atingem os alvos libertam partículas radioactivas e poeiras contendo metais pesados tóxicos. Segundo alguns estudos, estas partículas - que viajam pelo ar - podem provocar um aumento do número de doenças oncológicas (cancro e leucemia), malformações congénitas e nados-mortos. A nível ambiental, o urânio empobrecido vai afectar toda a cadeia alimentar, contaminando terra, água e alimentos. Os dosímetros são aparelhos para a detecção da radioactividades, que medem partículas alfa, núcleos de átomos de hélio, electrões ou positrões e radiações gama. Sim. Os mais potentes são os Geiger Miller, tubos geralmente com quatro ou cinco centímetros de comprimento por um ou dois de diâmetro. Os Geiger Miller podem medir até meio metro e, quanto maiores forem, maior é a sua sensibilidade para medir as radiações. Além destes aparelhos, existem pequenas películas fotográficas - semelhantes às usadas pelos dentistas para radiografar dentes - que têm cerca de três centímetros. Existem ainda dosímetros termo-luminescentes de apenas cinco milímetros. Nos Geiger Miller, as partículas que entram no aparelho vão ionizar o gás que está no seu interior, que transmitirá os sinais de radiações. Nos restantes dosímetros, quando se revelam as partículas, é possível saber a quantidade de radiação que receberam. Todos os dosímetros são acompanhados por um livro de instruções, que para além de explicar o seu funcionamento, indica também os valores limites que não podem ser ultrapassados para não existir perigo de contaminação. Marta Fernandes |