“Tinha estado nas piscinas, perto de Loures, com os meus irmãos e a minha prima. Os meus primos tinham ido passar uns dias connosco, ainda estávamos de férias. Chegámos a casa para lanchar. Estava tudo uma confusão, uma brincadeira, alguns tomavam banho de mangueira no quintal, outros já queriam lanchar, famintos. Estávamos na coisa de ir ligando a televisão. De repente, nessa brincadeira de entra-e-sai da casa, a televisão é interrompida. Já havia notícias. Uns diziam: “Não, é um filme, é um filme”, outros, mais velhos, “isto não é um filme, está a acontecer de verdade, estão pessoas a morrer de verdade”.
Eu nunca achei que fosse um filme, pela forma como os jornalistas estavam a agir sobre aquele acontecimento, o mundo ocidental parou. Foi muito curioso, eu não parei logo, estava na coisa da brincadeira, de ir ligar a mangueira, ainda estava Sol, queria dançar, fazer uma coreografia com a minha prima Maria, ir vendo as pessoas a sentar na sala e a irem comendo.