João Santos Lucas demite-se hoje do cargo de assessor técnico-científico do ministro da Saúde, Arlindo de Carvalho, por não poder tolerar “a falta de verdade” e a “desonestidade intelectual” do ministro ao longo do processo que estalou com a demissão-surpresa, na quarta-feira, de Machado Caetano da chefia da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida.

“O ministro não quer reconhecer os factos tal como eles são e tenta agora apresentá-los de uma forma lógica para encobrir a verdade”, disse ao PÚBLICO Santos Lucas, que na quinta-feira se demitiu da comissão, de que era membro há sete anos, juntamente com Machado Caetano.

Santos Lucas não coloca sequer a hipótese de regressar à comissão, que passa a ser coordenada pela investigadora Odete Ferreira. “Com este ministro e enquanto a Comissão Nacional de Luta Contra a Sida for uma organização dependente da Administração Regional de Saúde [ARS] não acredito na comissão nem na sua eficácia.”

Rita Damião, a presidente da ARS de Lisboa que Machado Caetano acusou de não desbloquear verbas atribuídas, foi igualmente rotulada por Santos Lucas como alguém com uma “desonestidade intelectual profunda” e que cobriu os oito meses de relação com a comissão com um “manto de fantasia”.

“É fantasia quando se diz que se tratou a comissão como um bijou [tal como Rita Damião declarara ao PÚBLICO no sábado]. É cobrir com afecto aquilo que se tratou com desdém.” Como exemplo, Santos Lucas lembra que a comissão apresentou em Abril um pedido para que a ARS abrisse um concurso de modo a ser seleccionada a empresa que substituiria o ISPA no “fornecimento” de psicólogos da Linha Sida — que fechou o mês passado por atraso de pagamento aos técnicos do ISPA. “Elaborámos, nessa altura, um programa e um caderno de encargos. Até 31 de Outubro nada aconteceu.”