Francisco Lacerda: "Os CTT não mentem"

Presidente dos Correios rejeita críticas da Anacom e diz que a questão da renacionalização “não é o debate mais importante”.

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NUNO FERREIRA SANTOS

O dia começou com o presidente da Anacom, João Cadete de Matos, no Parlamento a criticar a actuação dos CTT no caso da divulgação dos números das reclamações em 2018 e terminou com o presidente da empresa, Francisco Lacerda, a garantir que “os CTT não prestam informação enganosa e não mentem”.

“Ao contrário do que foi dito ontem e hoje” pelo regulador, “os CTT não mentem aos consumidores, não mentem à população e não mentem às autoridades”, afirmou o presidente da empresa, na apresentação das contas de 2018. Durante a manhã, Cadete de Matos afirmou no Parlamento que a divulgação de um comunicado em que os CTT consideram que o número de reclamações caiu 7% foi “um facto anómalo que não devia ter acontecido”.

O regulador acusou a empresa de ter somado números de reclamações com pedidos de informação para dar a entender que o total de reclamações caiu 7% no ano passado, ao contrário dos números divulgados pela Anacom, que apontam para um crescimento de 36% das queixas registadas nos Livros de Reclamações. A empresa reagiu, referindo que a Anacom sempre tem aceitado o indicador que junta reclamações com pedidos de informação.

No Parlamento, Cadete de Matos classificou a actuação da empresa como “um facto inapropriado” e de “divulgação de informação enganosa”, para reforçar que gostaria de ver a lei alterada para ter mecanismos sancionatórios que lhe permitissem dissuadir as empresas e os seus gestores de qualquer tentativa de manipular informação.

Questionado na conferência de imprensa sobre se sente que os CTT estão sob ataque do regulador (que nos últimos dias também disse estar convencido que a empresa imputou custos da actividade bancária de forma irregular ao serviço universal postal), Lacerda sublinhou que não quer acreditar que “há uma perseguição a quem quer que seja”.
Mas reconheceu que “houve uma alteração da Anacom nos últimos anos” (o conselho de administração liderado por Cadete de Matos está em funções desde Agosto de 2016).

Lembrou que faltam dois anos para o fim do contrato de concessão do serviço público postal “e de repente tudo tem que ser diferente e nada do que [antes] era certo agora é certo” e que isto “demonstra uma mudança de postura e paradigma”.

“Não acho que seja uma perseguição aos CTT, mas é uma alteração objectiva de circunstâncias”, afirmou. Isso é visível mesmo “na maior rapidez de divulgação de decisões que são ainda provisórias”, mas que “de repente saem na comunicação social ainda antes sequer de nós termos tido tempo de os ler”, queixou-se o presidente dos Correios.

Sobre a discussão no Parlamento dos diplomas do PCP, Bloco de Esquerda e PEV que visam fazer regressar a empresa à esfera pública, o presidente dos Correios considerou que há que distinguir o que é ideologia (referindo-se aos deputados, disse que cada um tem a sua “e votará de acordo com ela”) das outras ideias que estão subjacentes às propostas de renacionalização da empresa.

E sobre elas, repetiu que os CTT “não estão a abandonar as populações” e “não têm um problema gravíssimo na qualidade do serviço, nem na distribuição, nem na qualidade do atendimento”. Aliás, sobre os resultados dos testes de medição da qualidade de serviço, que deverão ser apresentados em Março, afirmou que “provavelmente vamos ter este ano uma subida os indicadores”.

“Não penso que esse seja o debate mais importante”, acrescentou o gestor a propósito da questão da renacionalização, destacando o compromisso da empresa em “pensar o futuro” do serviço universal postal e o desejo de que “todas as divergências” sobre este tema sejam discutidas apenas “em termos técnicos e objectivos”.

Considerando que 2018 “foi um ano bom” para os CTT, o presidente da empresa explicou que os resultados líquidos caíram 28% em 2018, para um total de 19,6 milhões de euros, mas que isso se explica com os custos não recorrentes relacionados com o pagamento de indemnizações aos trabalhadores que aceitaram rescindir o contrato no programa aberto no final de 2017 (419 no total, dos quais 268 em 2018). Ainda assim, no último trimestre, os resultados aceleraram 25,5%, para 9,7 milhões, face ao mesmo período de 2017.

A empresa pretende pagar aos accionistas um dividendo de dez cêntimos por acção, num total de 15 milhões de euros (ou seja, 75% dos lucros) referente ao exercício de 2018.

As receitas aumentaram 1,4%, para 708,0 milhões de euros, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciações e apreciações (EBITDA) melhorou 0,6%, para 90,4 milhões. O crescimento de receitas foi “impulsionado pela evolução positiva do mix”, que compensou a queda do tráfego do correio endereçado.

Lacerda explicou que baixou o volume do correio normal mais barato, mas aumentou o de serviços mais caros, como o correio registado ou o relacionado com o comércio electrónico, mesmo que transportado no formato envelope (deu o exemplo de correspondência proveniente da China). Por outro lado, as receitas do segmento de correio expresso e encomendas e do Banco CTT também subiram, 12,3% e 27%, respectivamente, para 15 milhões de euros e 23,6 milhões de euros.

No caso do Banco CTT, que completa os três anos de actividade em Março, o gestor assegurou que está a caminho do break-even operacional.

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