Rui Rio: "O PSD tem de ganhar as eleições ao centro e na abstenção"
O líder social-democrata afirma que um apoio ao PS em caso de derrota nas legislativas depende do resultado das eleições e teria sempre de ser aprovado em Conselho Nacional.
O presidente do PSD defende que o partido pode ganhar as próximas eleições legislativas, mas que isso só é possível ao centro - e não à direita -, e ganhando votos entre os abstencionistas. “O PSD tem de ganhar as eleições na abstenção, que é o maior partido português. Eu acredito que é aqui que se podem ganhar eleições e é ao centro que estão essas pessoas, que são equilibradas mas não se revêem em nenhum partido”, afirmou Rui Rio em entrevista a Daniel Oliveira para o podcast Perguntar Não Ofende.
Para explicar a sua opção pelo “recentramento” do partido, Rui Rio afirmou que o PSD “é um partido social-democrata, na sua origem e agora, não é um partido liberal”. Lembrou que, no início, o PSD era “um partido marcadamente de centro-esquerda” e que Sá Carneiro quis até inscrever o partido na Internacional Socialista, mas só não o fez “porque o PS chegou primeiro e tinha direito de veto”. Rio diz que o partido que se deslocou mais do espaço original foi o PS, que era socialista e agora “já não tem problemas em falar em social-democracia”.
Rio considera que não há nenhuma fractura ideológica no partido: “O que há é um grupo mais restrito em que a componente ideológica é mais liberal”. Embora tenha hesitado em criticar as opções políticas de Pedro Passos Coelho, acabou por considerar que a sua liderança foi “a mais à direita” de sempre do partido, mas por outro lado defendeu que a nível económico-financeiro não havia alternativa: “Se eu lá tivesse estado, não podia ter feito de outra maneira”, reconheceu, mas concluiu: “Governar fora da troika é diferente, até Passos Coelho faria diferente”. “Talvez eu esteja mais à esquerda, mas cabemos os dois no PSD”, rematou.
Questionado sobre a possibilidade de viabilizar um governo do PS caso os socialistas vençam as eleições sem maioria absoluta, o líder do PSD começou por dizer que “vai para ganhar”. Mas acabou por admitir que as soluções de governo dependem dos resultados eleitorais: “O PSD tem de colocar sempre o interesse nacional em primeiro lugar. Imagine que o PS queria que o PSD apoiasse em troca de algo grande, eu teria de fazer essa pergunta ao partido. O Conselho Nacional teria de decidir o que seria melhor para o país. Em função do resultado, temos de ver o que fazer”, defendeu.
Daniel Oliveira quis também saber se Rui Rio acha que tem condições para se manter na liderança caso perca as legislativas e a resposta foi ambígua: “Isso não é linear, há vitórias e vitórias, há derrotas e derrotas. Há uma parte quantitativa e outra qualitativa, há uma série de factores”, respondeu.
Seja como for, o líder do PSD insistiu na importância e urgência de se fazerem reformas estruturais, em particular no sistema eleitoral e na justiça, que precisariam de uma revisão constitucional, mas reconheceu que neste ano eleitoral “não há condições” para fazer acordos de regime “o mais consensuais possível” – isso terá de esperar por 2020.
Sobre as eleições europeias, afirmou que tem “a lista na cabeça”, mas que ainda não está fechada, e admitiu que Mota Amaral possa integrá-la “em lugar mais do que elegível”. Já quanto às listas para as legislativas, insistiu nos três factores que vão guiar a escolha dos candidatos: “competência, dedicação e lealdade”. Lealdade não é a marca da bancada do PSD, retorquiu Oliveira, dando oportunidade a Rio de reconhecer que “nem tudo funcionou da melhor maneira, mas ainda faltam alguns meses”. Mas insistiu no ponto: “A lealdade também conta. Como é que podemos ter colaboradores se não forem leais?”
Quando Daniel Oliveira o confrontou com a questão da regionalização, Rui Rio começou por explicar o acordo para a descentralização que fez com o PS, no âmbito do qual foi constituída a “comissão de sábios” para estudar o modelo. Disse que hoje voltava a votar contra um modelo como o que foi a referendo em 1998, mas não se colocou fora de outra solução, desde que sirva um objectivo principal: reduzir a despesa pública. “Eu quero a descentralização para racionalizar a despesa pública, para garantir a optimização da despesa, caso contrário não preciso dela para nada”, afirmou.