Rui Rio: “O PSD pode ganhar as eleições. Tem é de querer”

Líder do PSD afirma que o tempo corre a favor do partido e contra o PS, porque “as pessoas vão descobrindo os defeitos da governação”. E avisou os críticos internos: “Podem esperar sentados, porque vou cumprir o meu mandato até ao último minuto”.

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LUSA/Luís Forra

Se no torneio de futebol entre sociais-democratas da Festa do Pontal Rui Rio jogou ao ataque, no discurso de encerramento da rentrée social-democrata jogou muito à defesa. Defendeu o modelo escolhido para a festa, este ano reduzida a um evento regional algarvio, defendeu-se dos críticos internos sobre a ausência prolongada e defendeu a sua estratégia política e eleitoral, afirmando que a sua ambição é ganhar as três eleições do próximo ano: europeias, legislativas e regionais da Madeira. “Se quiser, o PSD pode ganhar as eleições. Tem é de querer”, afirmou bem alto.

“Temos um caminho que nos é favorável, porque cada vez mais portugueses se vão aperceber das limitações desta governação”, argumentou perante as cerca de 500 pessoas que subiram até à Fonte Filipe, no interior do concelho de Loulé, para participar na “festa do PSD Algarve”, como Rio lhe chamou.

Falou das deficiências na Saúde, criticou as políticas económicas e o crescimento, que considerou ir no caminho errado, e até concordou com o Bloco de Esquerda quando diz que há dois discursos diferentes no Governo: um do primeiro-ministro e outro do ministro das Finanças.

Críticos internos “defendem o seu lugarzinho”

Mas foi para dentro do seu partido que foi mais duro. “Ao contrário do que muitos pensam e dizem, este Governo não tem a vida tão facilitada como alguns dizem. Não tem, só terá se nós quisermos”, começou por dizer, antes de passar ao ataque aos seus críticos internos.

“Não posso aceitar que haja quem, dentro do PSD, esteja permanentemente, através das críticas internas, a proteger e a tentar salvar o PS. Aqueles que na comunicação social não perdem um só dia da semana – até aos domingos! – para fazer críticas ao PSD não estão a produzir opiniões sinceras e independentes. Estão a tentar evitar que o PSD ganhe as eleições porque só assim podem vir a ser alguém na política. São críticas tácticas ao serviço de interesses pessoais”, afirmou.

Rui Rio considera que esses críticos, que nunca nomeou, estão “a defender o seu lugarzinho e o do seu amigo”. “Mas comigo, defendem o seu lugarzinho com trabalho e seriedade, e não com intrigas”, bradou, arrancando aplausos. E para quem acha que pode atalhar caminho e tirá-lo da presidência do partido antes do tempo, deixou um aviso claro: “Podem esperar sentados porque eu vou cumprir, tal como sempre fiz, o meu compromisso até ao último minuto.”

Voltando ao início, Rui Rio assegura que quer ganhar as três eleições do próximo ano, em particular as legislativas. Mas também deixou claro que se isso não acontecer não será nenhuma vergonha: “Também servimos o país na oposição. Na Assembleia da República são tão importantes os deputados do partido do Governo como os da oposição”. Mas o objectivo é mesmo “ganhar as eleições” e para isso, frisou, é preciso “lealdade e companheirismo”.

Alfinetada a Santana

Quanto ao tempo, Rio acredita que joga a seu favor, destapando as deficiências da governação.

“Temos um Serviço Nacional de Saúde que funciona cada vez pior. As listas de espera para cirurgia têm mais de 200 mil pessoas. A lista de espera para consultas tem pessoas à espera há mais de um ano. As condições das urgências estão cada vez piores para os doentes e profissionais. Mais de 700 mil cidadãos não têm médico de família. O governo mais à esquerda desde o 25 de Abril enche a boca com o social, mas agrava a situação dessas mesmas pessoas”, disparou.

“O primeiro-ministro, perante um comboio de militantes, disse que o PSD queria um SNS para ricos e outro para pobres. Ele sabe que não é verdade, mas diz isso para distrair dos problemas reais da saúde”, afirmou. Foi o mote para dar uma alfinetada a Santana Lopes, que saiu do PSD para criar o partido Aliança: “Não sou liberal nem socialista, sou social-democrata desde antes do 25 de Abril. Defendo a iniciativa privada, mas não rejeito a intervenção do Estado sempre que for necessário”. E na saúde, Rio considera que é sempre preciso.

Depois voltou ao discurso de oposição ao Governo, com farpas à comunicação social. “A economia cresceu dois vírgula não sei quantos por cento e essa notícia foi dada como sendo muito positiva. Mas é algo de negativo. A nossa economia tem de crescer pelas exportações e pelo investimento” e não pelo consumo privado, defendeu. Mas se fosse consumo público era pior, reconheceu também.

Reconhece também que o emprego está a crescer, mas não vê só virtudes nisso: “O emprego cresce mais do que produção, o que significa que a produtividade baixou e os salários serão piores.” Também por isso afirmou que “dar um desconto de 50% no IRS [aos emigrantes que queiram voltar a Portugal] pode ser uma boa intenção, mas não vale a pena”. Porque “os portugueses regressam quando a economia lhes der empregos decentes e salários decentes”.

São problemas que Rui Rio considera que só se resolvem com “reformas estruturais” que a actual solução governativa não permite. Aos partidos da esquerda, “não os une um projecto político sustentado para o país”. Para isso, é precisa “uma solução política diferente no Parlamento”. Só não disse qual.

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