Apoio a Maduro em Lisboa: “Quando as bombas começarem a cair não serão apenas chavistas a morrer”
Várias organizações promoveram em Lisboa uma sessão de apoio ao Governo venezuelano e de condenação do que dizem ser um golpe dos EUA. Embaixador disse que “há luso-venezuelanos que dão a vida pela revolução”.
Com 68 anos, Manuel Guerreiro recorda-se bem do golpe militar que derrubou Salvador Allende no Chile, em 1973. O que por estes dias se passa na Venezuela voltou a fazer regressar essas memórias. “Vivi o golpe do Chile, e agora o objectivo é o mesmo”, diz, à chegada à Casa do Alentejo, para participar numa sessão convocada por várias organizações de apoio ao Governo venezuelano, ao fim da tarde desta quinta-feira.
Cerca de 200 pessoas, incluindo vários dirigentes nacionais do PCP, encheram uma das salas do edifício na Baixa de Lisboa para mostrar que estão ao lado da “revolução bolivariana”, mas sobretudo para condenarem o que dizem ser uma tentativa de golpe de Estado promovida pelos Estados Unidos. Manuel, um alentejano que mora no Seixal, admite que nem tudo correu bem durante os 14 anos de governos chavistas na Venezuela, que pretendiam instaurar um modelo socialista e independente do alinhamento com Washington. “É impossível que um processo daqueles vá para a frente naquele contexto. É o quintal dos EUA”, observa.
Quando está prestes a terminar o prazo concedido pela União Europeia a Nicolás Maduro para que marque novas eleições presidenciais – caso contrário, Bruxelas irá reconhecer Juan Guaidó como Presidente legítimo –, os dedos também são apontados a Portugal, que “embarcou no carro americano”, como diz Manuel Guerreiro.
Para Rita Fernandes, de 73 anos, os EUA “comportam-se como colonizadores” e responsabiliza a interferência externa pelo empobrecimento da população venezuelana. “Os bancos estrangeiros estão a congelar o dinheiro que é da Venezuela”, afirma. “É indecente o que se está a fazer.”
Uma visão semelhante é partilhada por Armindo Miranda, da comissão política do Comité Central do PCP, que garante que, “se a Venezuela pudesse usar aquele dinheiro [bloqueado por Governo estrangeiros], tudo seria diferente”. Diz que a única coisa que os EUA não conseguiram fazer foi “assassinar Maduro”. “Tudo o que possa mexer com os interesses dos EUA acaba assim”, defende o dirigente comunista.
Todos estavam ali para ouvir as mensagens de solidariedade dos representantes de organizações como o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a Associação Amizade Portugal-Cuba, ou a CGTP-IN. Mas a grande expectativa girava em torno da intervenção do embaixador venezuelano em Lisboa, o general Lucas Rincón Romero, que assim que subiu ao pequeno palco viu toda a plateia a erguer-se e a gritar “O povo unido jamais será vencido”.
Antes, a embaixadora cubana, Mercedes Martínez, referiu-se à Venezuela como “nação irmã” e deu uma garantia: “Nunca faltaremos à solidariedade e à lealdade com Hugo Chávez.”
Num discurso muito combativo, em que por vezes chegava a gritar, o embaixador venezuelano disse que “a Venezuela está a ser atacada por todos os lados, por governos que se crêem amos do mundo”. Garantiu que existem “luso-venezuelanos que dão a vida pela revolução” e deixou um aviso, lembrando que “7% dos membros das Forças Armadas têm origem portuguesa”: “É preciso ter cuidado porque quando as bombas começarem a cair, não vão cair apenas em cima dos chavistas ou dos venezuelanos puros.”
Notícia alterada: acrescentada a informação de que Armindo Miranda integra a comissão política do comité central do PCP