PT pede impugnação da candidatura de Bolsonaro
Empresários pró-Bolsonaro pagam milhões de mensagens no WhatsApp. Esquema ilegal é revelado pelo jornal Folha de São Paulo. O Tribunal Superior Eleitoral pode aceitar investigar o caso mas nunca haverá conclusões antes da segunda volta, a 28 de Outubro.
Uma investigação do jornal brasileiro Folha de São Paulo revelou que há empresas a contratar o envio, através da rede WhatsApp, de centenas de milhões de mensagens e notícias falsas contra o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, num esforço para beneficiar Jair Bolsonaro a pouco mais de uma semana da segunda volta das presidenciais, marcada para 28 de Outubro. Em resposta, o PT pediu a impugnação da candidatura de Bolsonaro.
O PT (pela mão da senadora Gleisi Hoffmann) avançou de imediato com o pedido de investigação judicial no Tribunal Superior Eleitoral para averiguar o suposto abuso de poder económico e político e uso indevido de meios de comunicação. A este esquema, Hoffmann chamou “fábrica de mentiras” de Bolsonaro, cita a Folha de São Paulo. “Isso mostra que a onda que se teve não foi uma onda de convencimento do eleitorado pelas causas ou pela proposta do candidato, mas foi construída nos subterrâneos da internet”, completou a senadora.
Esta prática, que pode ser enquadrada como uma doação de campanha por parte de empresas, é ilegal. Se ficar provado que aconteceu, Bolsonaro podia vir a ser afastado da corrida presidencial. Na acção, o PT pede isso mesmo: que Bolsonaro fique inelegível durante oito anos e que o WhatsApp apresente “no prazo de 24 horas” um plano de contingência das mensagens. Mas não há prazo para o Tribunal Superior Eleitoral julgue o caso e este processo pode demorar até um ano.
Entre as empresas sob suspeita está a Havan, cujo proprietário Luciano Hang é um conhecido apoiante de Bolsonaro, tendo mesmo sido filmado a coagir os seus funcionários a votar no candidato de extrema-direita.
Cerca de 12 milhões de reais (quase três milhões de euros) terão sido aplicados no esquema segundo o jornal brasileiro. A rede WhatsApp tem sido o principal veículo de propaganda política (e de notícias falsas) durante estas eleições presidenciais.
Campanha de Donald Trump
Segundo a Folha de São Paulo, as empresas contratam o envio de mensagens a agências de marketing que estarão a usar listas de contactos que tinham sido reunidas para fins comerciais, e que não podem legalmente ser utilizadas para fins de propaganda política. As listas de contactos estarão organizadas conforme o grau de apoio ou oposição dos destinatários em relação aos candidatos presidenciais, uma estratégia de segmentação que é semelhante à que foi utilizada pela campanha de Donald Trump nas últimas presidenciais norte-americanas.
Esta quinta-feira, e em reacção à reportagem da Folha, Fernando Haddad já tinha anunciado que iria recorrer à justiça criminal e eleitoral contra Bolsonaro, acusando-o de montar uma organização criminosa para influenciar o resultado das presidenciais a uma semana da segunda volta, a 28 de Outubro.
“Vamos pedir providências para que esses empresários corruptos sejam imediatamente presos para parar com essas mensagens de WhatsApp”, disse Haddad numa conferência de imprensa. “Espero que a democracia resista ao que está a acontecer.”
Também o PSOL entrou com uma acção no Tribunal Superior Eleitoral, pedindo que este tribunal intervenha, impondo regras ao WhatsApp de forma a conter a circulação de notícias falsas.
“Inúmeras são as situações diariamente noticiadas de que as mensagens que circulam nos grupos de WhatsApp, sem qualquer acompanhamento e cuidado com a legislação, têm desequilibrado o pleito eleitoral, especialmente porque chegam a milhões de pessoas e muitas têm como principal meio de se informar o grupo de mensagens, o que facilita o trabalho de quem divulga notícias falsas, ofensivas e inverídicas”, lê-se no documento citado pela Folha.
Também o partido de Ciro Gomes, o PDT, deverá pedir a impugnação da candidatura de Bolsonaro, noticia a revista Veja.
Bolsonaro nega envolvimento
Bolsonaro já negou qualquer envolvimento no caso. “Apoio voluntário é algo que o PT desconhece e não aceita. Sempre fizeram política comprando consciência”, reagiu. “Um dos ex-filiados de seu partido de apoio, o PSOL, tentou nos assassinar”, continuou, referindo-se ao ataque de que foi alvo em Setembro. “Somos a ameaça aos maiores corruptos da história do Brasil. Juntos resgataremos nosso país!”, escreveu no Twitter.
Mais tarde, o candidato de extrema-direita fez um directo no Facebook para negar (novamente) as acusações: “Desde 6 de Setembro que não estou na luta. Estive no hospital durante 23 dias, e estou em casa há apenas alguns dias. Não jantei nem almocei com ninguém. Saí apenas cinco vezes.”
De acordo com as últimas sondagens, Bolsonaro lidera as intenções de voto com mais de 50% das preferências.