O esfrangalhamento do PSD
A um ano de eleições, é difícil — mesmo com histórias inconcebíveis como a de Tancos — não prever a tranquilidade do PS nas próximas legislativas.
O PSD é o partido mais fratricida de Portugal. Os seus 44 anos de história estão pejados de cisões e confusões inéditas e incomparavelmente mais tortuosas do que algum dia aconteceu no outro grande partido do sistema, o PS. A parábola da rã e do escorpião — em que o escorpião morde a rã que o ajudou a sobreviver porque “é a sua natureza” — aplica-se a vários episódios da história do partido. Se o que se passa actualmente não tem nada que ver com as graves dissensões dos tempos de Sá Carneiro, é verdade que permanece uma imensa tentação pelo abismo.
A reunião de ontem do grupo parlamentar veio mais uma vez expor o esfrangalhamento do maior partido da oposição, cuja estratégia, ao fim de nove meses de estada do novo líder na cadeira do poder, permanece um mistério para a maioria dos portugueses. Rui Rio, o guardião, decidiu cumprir a coisa à letra e guardá-la para si.
A um ano de eleições, é difícil — mesmo com histórias inconcebíveis como a de Tancos — não prever a tranquilidade do PS nas próximas legislativas, muito similar àquela com que está a negociar o Orçamento com os seus parceiros de esquerda. Costa aproxima-se de conseguir fazer o pleno: apresentar um défice zero — ou eventualmente um supéravite — nas contas de 2018, que serão anunciadas lá para Abril, já em pré-campanha eleitoral, enquanto Espanha, Itália e França vão a caminho de défices muito maiores. Tudo isto conseguido com a ajuda dos partidos de esquerda que se encontravam, face a este Orçamento, numa situação de sequestro controlado: demasiadas exigências levariam à queda do Governo e o PS beneficiaria imediatamente.
Uma semana depois de termos ficado a saber que a Polícia Judiciária Militar, órgão dependente do ministro da Defesa, encenou a recuperação das armas de Tancos, o primeiro-ministro pode dar-se ao luxo de esperar algum tempo para substituir o seu ministro da Defesa. O Presidente da República e comandante supremo das Forças Armadas, ainda que possa estar incomodado q.b., está a deixar (também) correr o marfim. Reduzida que está a oposição ao CDS, Costa pode escolher o timing, com o beneplácito do Presidente.