Lipor preparada para metas mais exigentes de reciclagem antes de 2020
O segundo maior sistema de gestão de resíduos já está a sentir os efeitos positivos do alargamento da recolha porta-a-porta.
A administração da Lipor, empresa intermunicipal responsável pela gestão dos resíduos urbanos de oito concelhos do Grande Porto, está preparada para uma eventual alteração, por parte do Governo, das metas de reciclagem a que este sistema está obrigado, tendo em conta o risco, apontado no final de Setembro pela Comissão Europeia, de o país vir a falhar os objectivos assumidos para 2020, e que passam pela reciclagem de metade da fracção valorizável do lixo que produzimos. A empresa está a investir fortemente na expansão da recolha porta-a-porta e os dados preliminares, diz Fernando Leite, mostram um aumento de 8 a 10% no volume de reciclados.
O administrador-delegado da Lipor não tem dúvidas de que Portugal será chamado a fazer um esforço maior, nos dois anos que faltam para o virar da década, e antecipa que isso será brevemente vertido para o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos 2020, que o Governo está a rever. A Comissão Europeia colocou o país numa lista de 14 estados-membros em risco de falharem a meta, e na sequência desse alerta, espera-se, para além de encontros entre dirigentes europeus e entidades ligadas ao sector em Portugal, que nos sejam apresentadas medidas obrigatórias para atingir o objectivo, assume este responsável pelo segundo maior sistema de gestão de resíduos do país.
Fernando Leite faz um ponto de situação menos optimista que o Governo, mas ao mesmo tempo alinha-se com a tutela, ao considerar que existem condições, com os investimentos que finalmente estão a ser feitos do lado da melhoria dos processos de recolha, para que se note um salto, já em 2019. A Lipor tem como meta específica reciclar 35% de toda a fracção reciclável que entra nas suas instalações, mas dada a dimensão e peso populacional dos municípios que serve, um incremento neste objectivo teria um impacto positivo nos dados de reciclagem do país, que continuam muito aquém do exigível. “Pelo último relatório da Agência Portuguesa do Ambiente, no global ainda colocamos 55% de resíduos em aterro, quando essa taxa não poderá ultrapassar os 10% em 2025. Isto é dramático”, assume.
A Lipor consegue ter taxas muito baixas de deposição em aterro graças à exploração de uma unidade de valorização energética, para onde encaminha 79% do lixo que recebe, mas, como outras empresas, está a ter resultados muito aquém do esperado com o encaminhamento de resíduos indiferenciados para tratamento mecânico e biológico (TMB), a partir do qual são separados, em fábrica, resíduos reaproveitáveis. Bruxelas aconselhou, precisamente, uma reavaliação do contributo do TMB para o total da reciclagem, processo, explica Fernando Leite, que não permite aproveitar a fracção de plástico e cartão contaminados com gorduras ou outros poluentes, e que não são aceites pela indústria da reciclagem e outras.
A solução está na recolha. Leite assume que o sistema de ecopontos não teve a resposta desejável, por parte dos cidadãos, embora também aponte o dedo a uma quebra nas acções de educação ambiental, durante os anos da crise mais recente. E em áreas urbanas densamente povoadas, os sistemas não têm outra opção que não seja seguir as melhores práticas, incrementando a separação em casa, e a recolha porta-a porta dos três recicláveis clássicos – papel, embalagens e vidro – a que se soma, agora um contentor castanho, para os resíduos orgânicos, que se forem bem segregados são encaminhados para unidades de compostagem. A experiência nos meses que leva o projecto de alargamento do porta-a porta a vários concelhos mostra, segundo Fernando Leite, que as pessoas aprendem rapidamente e estão, no geral, a participar no projecto da forma que seria expectável. Falta agora, admite, instituir incentivos na factura paga pelos cidadãos, beneficiando aqueles que contribuem para este esforço.