Farfetch entrou hoje na bolsa e abriu com uma forte valorização

Entrada em Wall Street da empresa fundada pelo português José Neves poderá movimentar quase 900 milhões de dólares com a dispersão de 44,2 milhões de acções.

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Farfetch e as bandeiras do Reino Unido e de Portugal em destaque nesta sexta-feira na fachada da Bolsa de Nova Iorque REUTERS/Brendan McDermid
José Neves. fundador da empresa cuja sede está no Reino Unido
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José Neves. fundador da empresa cuja sede está no Reino Unido fernando veludo/ nfactos

Chegou o dia da entrada na bolsa de Wall Street de uma das mais badaladas tecnológicas portuguesas: a Farfetch anunciou nesta sexta-feira que vai colocar à venda, a partir deste dia, 44,2 milhões de acções ao preço unitário de 20 dólares (16,97 euros segundo a taxa de câmbio neste momento), o que significa que a entrada da empresa criada por José Neves poderá movimentar quase 900 milhões de dólares, se conseguir vender todos os títulos durante esta oferta inicial e admissão à negociação [IPO, na sigla inglesa]. No arranque da sessão, (manhã nos EUA, tarde em Portugal) a indicação em Nova Iorque apontava para uma cotação de abertura entre 25,50 e 26,50 dólares. A verdade é que pouco depois de entrarem em negociação, as acções tocaram nos 28 dólares, isto é, com uma valorização de 40% face ao preço proposto pela empresa.

Esta primeira fase de venda deverá terminar a 25 de Setembro, mas os subscritores de capital terão um período inicial de 30 dias para adquirir mais 6,6 milhões de acções. A empresa que ganhou estatuto no panorama mundial como plataforma global para o retalho de moda de luxo, será admitida na bolsa de Nova Iorque com a sigla FTCH.

Ao preço de 20 dólares por acção, a avaliação bolsista da empresa na New York Stock Exchange rondará os 5800 milhões de dólares.

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A equipa Farfetch fez tocar o sino para a sessão do dia em Wall Street REUTERS/Brendan McDermid

De acordo com o prospecto do IPO entregue ao regulador norte-americano do mercado de acções, a SEC, o Gross Merchandise Value (métrica fundamental para uma plataforma de e-commerce ou marketplace e que traduz o valor monetário das transacções efectuadas num determinado período de tempo) da empresa foi de 908 milhões de dólares em 2017, montante que traduz um crescimento de 55,3% face a 2016.

As receitas para a empresa – que provêm fundamentalmente de comissões cobradas sobre cada venda – ficaram nesse ano em 386 milhões de dólares, mais 59,4% face a 2016. Tais taxas de crescimento assinalam uma saudável capacidade de gerar e fazer crescer as receitas e as vendas, bem como o número de utilizadores activos (que ultrapassou a fasquia de um milhão no primeiro semestre de 2018), mas ainda não são suficientes para chegar aos lucros.

Em 2017, o prejuízo líquido foi de 112 milhões de dólares (o prejuízo operacional, directamente imputável à actividade, cifrou-se em 94,4 milhões de dólares), ao passo que o primeiro semestre de 2018 fechou com um prejuízo líquido de 68,4 milhões de dólares, o que representa um agravamento face ao período homólogo de 2016.

Para tal contribui, igualmente o facto de a empresa continuar numa fase de forte investimento, tanto na expansão do negócio através da plataforma (que chega a 190 países) como dos serviços que presta. Com mais de 3000 funcionários e escritórios em quatro continentes (incluindo quatro localizações em Portugal: Lisboa, Porto, Braga e Guimarães), segundo números referentes a Junho de 2018, a empresa vai agora colocar no mercado 33,6 milhões de acções próprias e 10,6 milhões de acções pertencentes a investidores que até agora acreditaram na viabilidade e no sucesso desta tecnológica, e que financiaram o nascimento e evolução da empresa, desde 2007, com 700 milhões de dólares.

"Esta viagem de dez anos, que começou no meio de uma crise financeira global, foi tudo menos fácil!", disse José Neves, na mensagem ao mercado que a empresa incluiu no prospecto entregue em Nova Iorque. "A indústria do luxo tem muitas particularidades. É fundamentalmente feita de empresas familiares. Mesmo os maiores grupos, salvo raras excepções, são controlados por famílias e a maioria das marcas e retalhistas são também controlados por famílias. Por isso, as relações são cruciais, mas demoram tempo a construir", refere o fundador da empresa, que tinha esclarecido em 2016, numa entrevista ao PÚBLICO, que optaria pela entrada na bolsa de Nova Iorque por ser aí que se encontram os investidores fundamentais no sector de actividade da Farfetch e em empresas com o mesmo perfil desta.

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