Farfetch faz aliança para o Médio Oriente antes de entrada milionária em bolsa

Joint venture com grupo Chalhoub abre novos mercados para tecnológica portuguesa, que pode entrar na bolsa de Nova Iorque no próximo Outono.

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Em Portugal, a Farfetch tem instalações nos arredores do Porto, nos arredores de Guimarães e em Lisboa fernando veludo/nFactos
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A tecnológica portuguesa Farfetch, sediada em Londres, anunciou nesta quinta-feira uma aliança com o grupo Chalhoub, um dos maiores retalhistas de artigos de luxo no Médio Oriente. O acordo abre caminho à consolidação dos negócios da empresa fundada por José Neves no único mercado em que ainda não o tinha feito, e depois de ter assegurado o mesmo na Ásia com uma aliança estabelecida com o grupo JD.com.

“O Médio Oriente, sendo um dos maiores mercados de luxo do mundo, é de uma importância estratégica para a Farfetch", sublinha José Neves, presidente executivo (CEO), no comunicado divulgado nesta manhã pela empresa, que em Portgal tem instalações nos arredores do Porto, nos arredores de Guimarães e em Lisboa. "O Grupo Chalhoub é o melhor parceiro que poderíamos ter a bordo (...) num modelo de joint venture. É fantástico estarmos a trabalhar em conjunto, enquanto aumentamos os nossos esforços no Médio Oriente.”

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Patrick Chalhoub (esq.) e José Neves vão explorar juntos os mercados do Médio Oriente DR

A aliança para o Médio Oriente assume a forma de uma joint venture entre as duas empresas e pode ser o último passo da Farfetch antes da entrada em bolsa. O que poderá acontecer no próximo Outono, com uma avaliação inicial de 5000 milhões de dólares (pouco mais de 4000 milhões de euros ao câmbio actual), segundo a plataforma online Business of Fashion, especializada em notícias do sector da moda. Sendo certo que a entrada em bolsa poderá ser feita em Nova Iorque — tal como José Neves já revelara numa entrevista ao PÚBLICO em Setembro de 2016 — o CEO da empresa tem sempre recusado comprometer-se publicamente com um calendário.

Porém, a plataforma Business of Fashion cita nesta quinta-feira uma "fonte próxima do negócio" para avançar que o IPO (sigla inglesa para Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial) deverá acontecer em Setembro, informação que não foi confirmada pela empresa que celebra, em 2018, dez anos de vida e que é a única startup portuguesa com o selo de "unicórnio" — a designação dada no ecossistema financeiro às startups não cotadas em bolsa cuja avaliação financeira toca ou ultrapassa os mil milhões de dólares.

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José Neves, nas instalações de Leça do Balio, onde se situa o "hub" tecnólogico mais importante da Farfetch Fernando Veludo / NFactos

O PÚBLICO dirigiu questões à empresa através do gabinete de comunicação, tendo obtido resposta através de fonte oficial da empresa, que classifica as notícias sobre a entrada em bolsa como "rumor e especulação". "Não vamos comentar."

Seja como for, a confirmarem-se os 4000 milhões de euros de avaliação, isto significaria que a dispersão do capital em bolsa se faria a um preço 3,3 vezes superior ao actual valor de mercado estimado pelos analistas com base no valor de vendas e nas rondas de financiamento que permitiram à empresa portuguesa angariar nestes anos 700 milhões de dólares (562 milhões de euros) de investidores, segundo é reportado. Tanto a CB Insights como o TechCrunch listam actualmente a Farfetch no ranking dos "unicórnios" globais como valendo 1200 milhões de euros.

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A média de idades entre os mais de 1100 empregados da Farfetch era de 32 anos no último trimestre de 2016 Fernando Veludo / Nfactos

Primeiro escritório no Dubai

Quanto à parceria com o grupo Chalhoub, o fundador e presidente desta empresa, Patrick Chalhoub, designa-a como "o casamento perfeito". "A Farfetch é pioneira no novo contexto da moda de luxo enquanto o Grupo Chalhoub foi pioneiro no retalho de luxo no Médio Oriente durante os últimos 62 anos", afirma o novo parceiro da empresa de José Neves cujas vendas aumentaram 74% em 2016, face a 2015, segundo o relatório e contas da Farfetch UK consultado pelo PÚBLICO. A empresa emprega actualmente 2000 pessoas, 1500 das quais em Portugal, disse nesta quinta-feira fonte oficial da empresa, que conta 11 escritórios em todo o mundo. No último trimestre de 2016, a média de idades da sua força laboral era de 32 anos.

A nova aliança com o grupo Chalhoub levará ainda a Farfetch a abrir o primeiro escritório no Dubai, um dos dez maiores mercados de luxo no planeta. "A presença no Dubai reflecte o compromisso de longo prazo com a região", sublinha a Farfetch no comunicado desta manhã. Além das três localizações portuguesas já referidas, a Farfetch passa a estar assim representada no Dubai e Londres, Los Angeles, Nova Iorque, Tóquio, São Paulo, Hong Kong, Xangai e Moscovo.

Para Patrick Chalhoub, "a parceria com a Farfetch parece a escolha óbvia". "Queríamos trazer novas propostas para os nossos clientes ao mesmo tempo que acelerávamos a nossa jornada digital", acrescenta no comunicado em que se anuncia a aliança, cuja natureza jurídica não foi revelada, apesar das questões enviadas PELO público.

Até agora, a Farfetch organizou seis rondas de financiamento. Entre os investidores encontram-se nomes como a Advent Venture Partners, de Peter Baines, a Condé Nast (que tem participações significativas no publishing, detendo publicações bem conhecidas como a Vanity Fair e que vendeu à Farfetch num negócio com troca de acções, o portal style.com, entretanto encerrado) ou a Felix Capital, de Frédéric Court, que é um dos conselheiros da administração da Farfetch. A empresa divulgará as contas de 2017 em Março deste ano. Nessa altura será possível perceber como evoluiu o negócio da empresa, que fez grandes investimentos em Leça do Balio, em termos humanos e físicos.

Criada em Guimarães, a empresa portuguesa tem a sua sede fiscal em Londres, por razões que José Neves já explicou: "Londres era, pelo menos até ao 'Brexit', a jurisdição mais atractiva para startups, com o ecossistema europeu mais forte, em investidores, talento e leis." Porém, a farfetch.com, que se tornou a empresa-mãe, está registada na Ilha de Man. Em Inglaterra, a empresa reportou em 2016 um prejuízo de 34 milhões de libras (38,8 milhões de euros ao câmbio actual).

Porém, algumas das actividades mais críticas para o seu negócio continuam em Portugal. Em Leça do Balio, a poucos quilómetros do centro do Porto e no concelho da Maia, funciona o hub tecnológico que, no fundo, garante a operacionalidade da sua plataforma online de venda de artigos de luxo, ao passo que é em Guimarães, mais precisamente no AvePark, perto das Caldas das Taipas, que funciona o "cérebro logístico" da empresa, que conecta os seus clientes em todo o mundo com 530 boutiques de artigos de moda, que representam mais de 200 marcas topo de gama, em todas as geografias, e mais de 115 mil produtos únicos.

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