Ministro do Interior francês culpa Macron pelo "caso Benalla"
Os deputados perguntaram a Gerard Collomb se vai denunciar o comportamento do Presidente – que devia ter avisado as autoridades judiciais sobre o comportamento do chefe de segurança. E querem ouvir o Presidente.
O ministro francês do Interior, Gerard Collomb — considerado um dos mais fortes aliados do Presidente no Governo —, responsabilizou Emmanuel Macron pelo “caso Benalla” ao ser questionado no Parlamento. Benella era o segurança que Emmanuel Macron despediu mais de dois meses depois de ter sido filmado a espancar manifestantes em Paris no 1.º de Maio.
A presidência, disse Collomb, foi avisada do que aconteceu. “Considerei que os factos estavam a ser tratados pela estrutura apropriada, por isso não me envolvi mais”.
O caso fez eclodir uma tempestade política, a mais grave que Macron enfrenta desde que tomou posse, há 14 meses. O Presidente é criticado pela forma como lidou com Benalla ao saber que o seu chefe de segurança agredira cidadãos — decidiu suspender sem vencimento e por 15 dias o guarda-costas que o acompanha desde a campanha eleitoral.
Na sexta-feira da semana passada, o segurança foi despedido, depois de o jornal Le Monde ter divulgado um vídeo da agressão. Nele, Benalla usa um capacete da polícia; ao perceber que está a ser filmado afasta-se.
A oposição disse que ao ocultar da justiça o crime do segurança, o Presidente pode ter violado a lei. E chamou o ministro, acusado de também não ter tratado devidamente do caso, à Comissão de Leis do parlamento, onde Collomb foi interrogado durante duas horas e meia.
Collomb, que tentou todo o tempo minimizar a sua intervenção no assunto, explicou que falou com o Presidente sobre o assunto quando Macron estava na Austrália (2 de Maio). O ministro disse que não sabia da existência do vídeo e não fazia sequer ideia de que Benalla pertencia à segurança do Presidente; pensava que era polícia.
Numa rara unanimidade de opiniões, da França Insubmissa (a esquerda de Jean-Luc Mélenchon) aos Republicanos (direita), todos criticaram duramente o ministro por não aceitar a responsabilidade e por atirar toda a culpa para cima de Emmanuel Macron.
Esta oposição inconciliável — e pouco visível perante a esmagadora maioria do República em Marcha, de Macron — conseguiu também que fosse criada uma comissão parlamentar de inquérito ao caso, e que a ministra da Justiça, Nicole Belloubet, anunciasse, no domingo, que a reforma constitucional estava “suspensa” até haver “condições mais tranquilas”. E disse que quer ouvir Macron sobre o caso.
A oposição conseguiu também encurralar o ministro do Interior que já estava numa posição delicada (podia ser acusado de encobrir o crime do segurança de Macron). Collomb, com as suas respostas, acabou por se atirar para o incómodo papel de acusador do Presidente — resta saber se provocando um crise interna no executivo.
É que depois de o ministro ter responsabilizado o Presidente, os deputados perguntaram-lhe o que vai agora fazer em relação à lei que obrigava Macron a denunciar o crime de Benalla às autoridades. O ministro disse apenas que cabe à sua administração decidir se se fala ou não com as autoridades judiciais.
No domingo, a presidência francesa informara que vai proceder a “mudanças”, mas não deu pormenores. E ontem Macron cancelou a presença na etapa da Volta à França de quarta-feira.