Tempestade política por causa de vídeo em que segurança de Macron agride manifestante

O Presidente francês suspendeu Alexandre Benalla, que agrediu manifestante no 1.º de Maio, mas não informou autoridades – o que pode ser um acto ilegal, dizem vários adversários de Macron.

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Alexandre Benalla, assessor de segurança de Macron Reuters/PHILIPPE WOJAZER

Alexandre Benalla, guarda-costas do Presidente francês Emmanuel Macron, foi suspenso durante duas semanas por ter agredido um manifestante no 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, em Paris. Mas a informação só foi divulgada porque o Le Monde divulgou um vídeo do episódio – e despertou uma tempestade política.

A medida está a ser criticada por ser demasiado leve e por o Palácio do Eliseu não ter informado as autoridades na altura. A Procuradoria de Paris abriu uma investigação a Benalla, e Richard Ferrand, líder do grupo parlamentar do República Em Marcha, o partido do Presidente, impôs silêncio absoluto aos deputados.

No vídeo que tem sido largamente partilhado no Facebook, e que foi divulgado pelo Le Monde mais de dois meses depois do sucedido, Benalla, que, ao que se sabe, não é membro de nenhuma polícia, surge com um capacete de polícia com viseira ao lado de outros agentes a pontapear um manifestante que está no chão. Depois de perceber que está a ser filmado, o guarda-costas de Macron afasta-se rapidamente do local.

No Dia do Trabalhador, é comum as grandes manifestações que são organizadas em Paris para assinalar a data acabarem em confrontos entre os participantes e a polícia.

A oposição a Macron critica não só a punição leve atribuída a Benalla – que já é guarda-costas de Macron pelo menos desde a sua campanha para as presidenciais – mas também o facto de o Eliseu não ter informado as autoridades. Os Republicanos (direita), a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon (esquerda) e o Partido Socialista condenaram de forma unânime essa falta. 

“Este vídeo é chocante. Hoje, ficamos com o sentimento de que na equipa de Macron há um que está acima da lei. É óbvio que Macron tem de falar sobre isto”, disse Laurent Wauquiez, presidente d’Os Republicanos à rádio Europe 1.

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Alexandre Benalla, à esquerda de Macron, na campanha eleitoral de 2017 CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA

“Este caso é grave, simboliza a violência social infligida pelo novo poder. Não é um caso anedótico. Deve ser denunciado”, afirmou Eliane Assassi, presidente do grupo comunista no Senado, que pediu que fosse criada uma comissão de inquérito sobre o sucedido. 

O Presidente Macron tem-se recusado a fazer comentários sobre o tema, para além de uma declaração a dizer que o guarda-costas foi suspenso do serviço e de remuneração durante 15 dias, logo que se conheceram os factos.

Em violação do Código Penal

O deputado da direita Eric Ciotti aproveitou o debate em curso no Parlamento sobre a revisão constitucional para frisar que o Presidente devia ter denunciado o seu guarda-costas ao abrigo do artigo 40.º do Código Penal francês, que diz que “todas as autoridades constituídas, oficial ou funcionário público que, no exercício das suas funções, tenham conhecimento de um crime ou delito devem avisar sem demoras o procurador da República”. 

A Procuradoria de Paris informou a Reuters de que não sabia do caso e que abriu já uma investigação preliminar contra Benalla por suspeitas de agressão, usurpação das funções de polícia e utilização de sinaléticas reservadas a autoridades públicas.

A Reuters diz ainda que Benalla surge em várias fotografias captadas pela agência depois do período de suspensão a que foi sujeito, o que significa que este regressou às funções normalmente depois de cumprido o castigo.

“O colaborador Alexandre Benalla teve permissão para assistir às manifestações [do 1.º de Maio] apenas como observador”, explicou Bruno Roger-Petit, porta-voz do Palácio do Eliseu. “Claramente, ele foi além disso. E foi imediatamente convocado pelo chefe de gabinete do Presidente; foi-lhe dada uma suspensão de 15 dias. Isto é uma punição por um comportamento inaceitável.”

Surgiram entretanto várias outras imagens de Benalla a agarrar e a retirar à força jornalistas de eventos públicos em que participou Emmanuel Macron, na campanha para as presidenciais ou já como Presidente, que levam a oposição a exigir uma investigação por uma comissão de inquérito independente – e a exigir explicações do ministro do Interior, um próximo de Presidente.

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