Proposta do Labour para o pós-“Brexit” pode salvar May de derrota humilhante
Em vez de apoiar emenda dos lordes sobre acesso ao Mercado Único, Corbyn opta por proposta própria, pondo em causa concertação com tories “rebeldes”. Votação decisiva sobre relação futura é dia 12.
As probabilidades de o plano traçado por Theresa May para a relação futura entre o Reino Unido e a União Europeia poder vir a sofrer um duro revés diminuíram significativamente. Tudo porque a cúpula do Partido Trabalhista decidiu apresentar a sua própria proposta sobre o acesso do país ao Mercado Único, ignorando dessa forma a emenda da Câmara dos Lordes sobre a mesma matéria.
Para além de deixar o Labour dividido, o gesto impede que os deputados trabalhistas e conservadores pró-UE umam esforços para aprovar a sugestão dos lordes, na votação da próxima terça-feira na Câmara do Comuns.
No início de Maio a câmara alta do Parlamento britânico introduziu novas emendas à proposta de lei que regulará o divórcio entre Londres e Bruxelas, obrigando o Reino Unido a manter-se vinculado às regras do Mercado Único, através da permanência no Espaço Económico Europeu (EEE).
Ainda que seja o cenário onde se calculam menos perdas económicas, entre as hipóteses em cima da mesa para a relação pós-“Brexit”, a proposta dos lordes limita a acção do Governo no que toca à protecção do mercado interno britânico e ao controlo dos fluxos migratórios. Nesse sentido, não agrada nem um pouco a May, que diz que o único caminho possível é o abandono do Mercado Único e da União Aduaneira, e a desvinculação da jurisdição do Tribunal Europeu de Justiça – um “hard-‘Brexit’”.
Mas a chamada “Opção Noruega” é vista com bons olhos por alguns tories europeístas, que estão dispostos a dar-lhe luz verde no dia 12 – o Independent fala “em cerca de 20” ‘interessados’. Uma vez que a maioria liderada pela primeira-ministra conta neste momento com 326 deputados – 316 do Partido Conservador e dez do Partido Democrático Unionista –, se toda a oposição votar favoravelmente a emenda dos lordes, basta que apenas oito conservadores se insurjam contra May para que esta seja vergada a uma humilhante derrota.
A esta possibilidade tentadora, Jeremy Corbyn respondeu, no entanto, com uma nova proposta para a relação futura. O líder trabalhista entende que a manutenção do Reino Unido no EEE tornaria o país num mero “receptor de regras” e aposta numa solução que permita um acesso “total” e “sem obstáculos” ao Mercado Único, a ser negociada com Bruxelas.
“A emenda trabalhista será – em conjunto com o compromisso de negociação de uma nova e abrangente união aduaneira com a UE – um pacote sólido e equilibrado, que permitirá manter os benefícios do Mercado Único”, prometeu Corbyn na terça-feira, citado pelo Guardian.
A postura do líder apanhou muitos trabalhistas de surpresa e colocou em evidência a desunião do Labour sobre o caminho a seguir. Keir Starmer, porta-voz para o “Brexit”, admitiu à BBC que, face às “diferentes visões” dentro do partido sobre a emenda dos lordes, seria difícil aprová-la por unanimidade, pelo que uma nova emenda é a única forma de “votarem todos juntos e no mesmo sentido”.
Já o deputado pró-UE Chuka Umunna teme que se possa estar a perder uma oportunidade de derrotar May, por entender que os tories “rebeldes” não apoiarão a proposta de Corbyn por “razões tribais e políticas”. E por isso insiste: “A única emenda que tem alguma perspectiva de sucesso é a que nos foi trazida pela Câmara dos Lordes”.