Rui Patrício rescindiu unilateralmente contrato com o Sporting. A notícia, avançada pelo jornal Record , já confirmada pelo Sporting num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e pelo presidente do clube, Bruno de Carvalho.

Em conferência de imprensa, Bruno de Carvalho criticou o empresário Jorge Mendes, dizendo que quis ficar com sete dos 18 milhões de euros que o Wolverhampton ofereceu. O dirigente explicou que o Sporting esteve primeiro a negociar uma proposta com o Nápoles e depois com o Wolverhampton, que oferecia 18 milhões pelo guarda-redes. Mas diz que Jorge Mendes, empresário que representa Rui Patrício, queria uma comissão de três milhões de euros, além de quatro milhões pela transferência de Adrien, que em Janeiro se mudou para o Leicester. “Tenho pena que o Rui não tenha falado com a sua entidade patronal para perceber o que se está a passar, para perceber que está a ser manipulado por coisas que nada têm a ver com ele. Ele não tem nada a ver com o contrato se fez”, diz Bruno de Carvalho.

“Há sete dias pela lei para que um jogador reflicta, e espero que o Rui reflicta. Alguém lhe está a contar uma história mal contada. Não me parece que o Rui alinhasse numa situação de chantagem a um clube que fez dele o que é. Espero que tenha a oportunidade de sair pela porta grande”, disse também o presidente do clube de Alvalade, dizendo que Rui Patrício está a ser “manipulado”.

“No dia em que sair do Sporting, quero sair do Sporting de cabeça erguida”, afirmou ainda Bruno de Carvalho, dizendo que não cede a chantagens e que ter aceitado o negócio proposto seria um "crime lesa-Sporting".

Bruno de Carvalho repetiu que não há razões para rescisões com justa causa. “Mas se tivéssemos cedido na chantagem [do empresário], não havia rescisão por justa causa, havia uma saída maravilhosa. Só não entende quem não quer. Tenho a certeza que o Rui não sabe de nada disto”, disse ainda Bruno de Carvalho.

O guarda-redes leonino esteve a um passo de se mudar para Wolverhampton, mas uma intervenção de Bruno de Carvalho, que colocou entraves de última hora, inviabilizou a transferência, noticiou o Record. 

“Iremos defender Rui Patrício se ele disser ‘chega’ para um lado em vez do outro. Acho que o Rui merecia mais respeito e que espero que isto se ultrapasse rapidamente. O Sporting foi a casa que o fez crescer”, acrescentou o presidente do Sporting.

Bruno de Carvalho admite que esta rescisão pode desencadear várias outras: “Se podem seguir-se mais ou não? É possível. Pode seguir-se o efeito bola de neve, até porque os aconselhamentos vêm do mesmo advogado”, disse o dirigente, aconselhando os jogadores a terem calma, porque estas situações são "muito complexas".

Sobre a possível saída de Jorge Jesus, Bruno de Carvalho respondeu que ainda nada foi falado: “O Jorge [Jesus] tem um contrato, não foi dito nem para abreviar nem para alongar”.

A possibilidade de rescisões no plantel do Sporting tem sido repetidamente referida pela comunicação social desde que se registaram os episódios de violência na Academia de Alcochete. Até ao momento, nenhum futebolista tinha avançado, sendo a rescisão de Rui Patrício a primeira. Na carta de rescisão, a que o PÚBLICO teve acesso, o jogador diz não ter as "condições mínimas" para continuar a representar o Sporting e afirma ter alvo de violência física e psicológica, o que o fez temer pela vida.

Nesta altura, o guarda-redes já está ao serviço da selecção nacional, em preparação para o Mundial de futebol, que se joga na Rússia, a partir de 14 de Junho.

Rui Patrício, guarda-redes de 30 anos, estreou-se na equipa sénior do Sporting em 2006, mas chegou aos escalões de formação anos antes, em 1999, vindo do Sport Clube Leiria e Marrazes. Desde então nunca mais saiu do clube de Alvalade. Em 2016 renovou pelo Sporting até 2022, um contrato com cláusula de rescisão de 40 milhões de euros. Patrício representa a selecção nacional desde 2010, e defendeu a equipa das "quinas" no Euro 2012, Euro 2016 e na Taça das Confederações de 2017.

Este é mais um caso de instabilidade no Sporting. Esta sexta-feira está a ainda ser marcada pela substituição da Mesa da Assembleia Geral (MAG) do Sporting, pelo Conselho Directivo, que se reuniu na quinta-feira. De acordo com o comunicado emitido pela direcção, a reunião foi marcada pela “renúncia em bloco da MAG e da renúncia da maioria dos membros do Conselho Fiscal e Disciplinar, e por não terem sido iniciados pelos mesmos os procedimentos legais e estatutários a que estão vinculados e que permitiriam o normal funcionamento do clube e a consequente defesa dos superiores interesses" do clube.

Entretanto, a Holdimo (segunda maior acionista da SAD do Sporting) também deu a conhecer que apresentou uma acção judicial com vista à destituição da direcção de Bruno de Carvalho.

Na sequência destes acontecimentos, foi marcada uma conferência de imprensa pela direcção do clube de Alvalade, esta sexta-feira, às 12h30.