Escravatura durante 400 anos? Para o músico norte-americano Kanye West, um período tão longo “soa a uma escolha”. Em entrevista ao TMZ, um site de imprensa que segue celebridades, o músico de 40 anos, que nas últimas semanas tem usado o Twitter como plataforma de eleição para se expressar, abordou o período da escravatura como resultado de uma opção. "Quando ouvimos dizer que a escravatura durou 400 anos. Quatrocentos anos? Soa a uma escolha", respondeu o músico quando confrontado sobre alguns dos comentários que teceu na rede social.
Depois da declaração de Kanye, um dos repórteres do TMZ, Van Lathan reagiu ao músico. “Na minha opinião, o que estás a fazer é, na realidade, a abstenção de pensamento. Tens direito à tua opinião, de acreditar no que quiseres. Mas existe uma realidade e consequência na vida real para lá de tudo o que acabaste de dizer”, atirou.
“E enquanto estás a fazer música, a ser um artista, a viver a vida que ganhaste por seres um génio, o resto de nós tem de lidar com essas ameaças nas nossas vidas. Temos de lidar com a marginalização que veio dos 400 anos de escravidão que disseste, para o nosso povo, foi uma escolha. Francamente, estou desapontado, chocado. E, irmão, estou incrivelmente magoado pelo facto de te teres transformado numa coisa que, para mim, não é real”, concluiu.
“Temos de ter discussões abertas e ideias sobre como libertar a dor. Claro que sei que os escravos não foram acorrentados e colocados em navios de livre vontade. O que quis dizer é que, se ficámos nessa posição, embora os números estivessem do nosso lado, foi porque estávamos numa prisão mental”, justificou mais tarde através do Twitter.
“Só falei dos 400 anos porque não podemos ficar numa prisão mental mais 400 anos. Precisamos de um pensamento livre, agora. A declaração em si é um exemplo de pensamento livre”, acrescentou. O músico disse ainda que “uma vez mais” estava “a ser atacado” por apresentar “novas ideias”.
Nas redes sociais não se pouparam críticas às declarações do músico e houve até comparações à personagem de Stephen, no filme Django Unchained, um escravo que é o braço direito de um dos fazendeiros e se acha superior aos demais. “Nunca houve um momento na História em que os negros não resistiram à escravatura. Alguns saltaram de navios. Alguns mataram os patrões. Outros fugiram. Outros fizeram-no através de resistência diária. Os donos da escravatura não se reformaram. Foi a nossa resistência que nos conduziu à liberdade”, escreveu um dos utilizadores da rede social.
Apesar de os números serem estimativas, calcula-se que pelo menos 28 milhões de africanos tenham sido colocados em navios com destino ao continente americano entre os séculos XV e XIX.
“Sugerir que alguém escolheu uma vida de abuso e exploração é incrivelmente inútil e desrespeitador daqueles que sofreram com a escravatura e aqueles que ainda continuam a ser tratados dessa forma”, declarou Justine Currel, directora executiva da organização Unseen.
Face às recentes e polémicas declarações de Kanye West, que tem passado grande parte do tempo no Twitter nas últimas semanas, alguma comunicação social questiona a saúde mental do músico. Face às críticas, a mulher de Kanye, Kim Kardashian West, defendeu a liberdade de o marido partilhar a sua opinião, ainda que as pessoas (ela incluída) discordem.
A empresária norte-americana, que cresceu com o reality-show Keeping Up With The Kardashians, comentava especificamente as declarações de apoio de Kanye ao Presidente norte-americano, Donald Trump. “A maioria das pessoas (incluindo eu) tem opiniões e sentimentos diferentes em relação a isso. Mas é a opinião DELE. E eu acredito que as pessoas têm a liberdade de ter as suas próprias opiniões, mesmo que sejam diferentes da minha. Ele nunca disse que concorda com as políticas [de Trump]”, justificou Kim Kardashian na passada semana.
“A saúde mental não é nenhuma piada e a comunicação social precisa de parar de a disparar de forma tão casual. Ponto final”, concluiu Kim Kardashian. No entanto, a tese volta a ganhar força com os últimos comentários.
Kanye, que no passado esteve internado como consequência de um período de perturbações mentais, terá admitido que não está a cumprir a medicação que lhe foi prescrita e algumas pessoas próximas do músico acreditam que os seus comentários mais polémicos poderão ser um resultado disso.