Para um em cada quatro jovens a violência sexual é “natural” no namoro

Estudo que é apresentado nesta quarta-feira pela UMAR inquiriu mais de 4000 jovens, com uma média de idades de 15 anos. Há mais a relatarem violência no namoro e mais a legitimarem-na.

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Paulo Pimenta

Têm 15 anos em média. Rapazes e raparigas. Para muitos (40%), se alguém impede o namorado ou a namorada de se vestir de determinada forma, isso não é violência. Se numa discussão entre os dois há insultos, isso não é violência (25%). E também não o é uma agressão corporal se dela não resulta uma ferida ou uma marca (8%). Já a violência sexual — forçar beijos em público, pressionar ou coagir para ter relações sexuais, por exemplo — é legitimada por um quarto dos 4000 inquiridos num estudo da UMAR, União de Mulheres Alternativa e Resposta, que é apresentado nesta quarta-feira, no Porto. Ou seja, é considerada “natural”.

Isto é o que muitos jovens acham de diferentes situações que lhes são apresentadas em teoria. Na prática, se atendermos apenas aos cerca de 3000 da amostra que dizem já ter tido “uma relação de intimidade”, mais de metade (56%) relata actos que configuram, de alguma forma, violência no namoro.

No Dia dos Namorados, que se assinala nesta quarta-feira, são apresentados, em diferentes pontos do país, dados e estudos sobre a violência entre namorados. Alguns já foram antecipados pelo PÚBLICO na edição desta terça-feira — caso do balanço do Observatório da Violência no Namoro, da Associação Plano i, que recebeu 128 denúncias desde Abril do ano passado até Janeiro deste ano, de jovens universitários, sobretudo raparigas, tendo uma em cada dez vítimas relatado que foi ameaçada de morte por namorados ou ex-namorados.

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Já este estudo, sobre rapazes e raparigas que têm em média 15 anos, põe o foco num grupo bem mais jovem. É da responsabilidade da UMAR, no âmbito do Projecto Art’Themis, que tem entre as suas preocupações a prevenção da violência. Envolveu 4652 jovens de Portugal continental e arquipélago da Madeira. O que revela é “preocupante”, por vezes “alarmante”, palavras usadas mais do que uma vez na síntese do trabalho.

Nas redes sociais

Os dois terços de jovens em 4652 inquiridos que declaram já ter tido um “relacionamento amoroso” e que podem falar da sua experiência pessoal dizem isto: 18% relatam ter sido alvo por parte do parceiro de situações que se enquadram na violência psicológica; 11% reportam situações de “controlo” (proibição de falar com certos amigos ou amigas, ou de vestir algum tipo de roupa, por exemplo); 6% declaram ter sido alvo de violência física.

E, “apesar de, neste estudo, participarem pessoas com idades muito jovens, a prevalência média de violência sexual é de 7%”, prossegue a equipa coordenada por Maria José Magalhães. O comportamento mais habitual nesta forma de violência é o pressionar a vítima para beijar o companheiro ou a companheira à frente de outras pessoas (8%). “Numa percentagem preocupante”, 5% dos jovens referem já ter sido pressionados pelo companheiro para ter relações sexuais.

“Os resultados obtidos sobre a vitimação através das redes sociais são também alarmantes”, continua o resumo da UMAR. “Uma vez que 12% dos/as inquiridos/as revelam ter sido vítimas desta nova forma de violência no relacionamento. Dentro da violência através das redes sociais, o comportamento mais frequente é entrar no Facebook ou outra rede social, sem autorização da vítima (20%). Foram também colocadas questões sobre a partilha online de conteúdos íntimos sem autorização, e 4% dos/as jovens (sem diferenças significativas quanto ao sexo) afirmam ter sofrido esta forma de violência).”

Eles legitimam mais

Em suma, a primeira conclusão deste estudo é que dos jovens que já tiveram uma relação de intimidade, 56% sofreram actos de vitimação que configuram a violência no namoro. A segunda conclusão é que “68,5% do total de jovens aceitam como natural pelo menos uma das formas de violência na intimidade”, física, psicológica, sexual, nas redes sociais... “Esta normalização das situações descritas reproduz a legitimação social da violência nas relações de intimidade”, sendo que esta “naturalização da violência” é ainda mais frequente nos jovens e nas jovens que identificaram ter sofrido actos de vitimação (76,9%).

A terceira conclusão é que quando se comparam estes dados com os de um estudo semelhante divulgado em 2017, pela UMAR, a situação piorou em várias dimensões analisadas, tanto em termos de legitimação da violência como de vitimação. A percentagem de vítimas de violência sexual passou de 24% para 25%. A proporção dos que foram alvo de perseguição passou de 25% para 26%. As vítimas de violência física eram 6% e são agora 8%....

“Pode também concluir-se que a naturalização da violência é maior nos rapazes em todas as formas de violência estudadas”, sobretudo no que diz respeito à violência sexual, prossegue a síntese. Por exemplo: enquanto 6% das jovens raparigas não identifica a pressão para ter relações sexuais como um comportamento violento, a percentagem sobe para os 22% no caso dos rapazes. “É mais de 3 vezes superior.”

Perante estes resultados, diz a equipa da UMAR, “permanece a necessidade e urgência de uma intervenção com os/as jovens, o mais precoce e continuadamente possível, no sentido de prevenir a violência sob todas as formas”.

Mais: “É pertinente referir que não podem desvalorizar-se quaisquer formas de violência, já que estas têm repercussões a vários níveis para os/as jovens; e que desconstruir a normalização/legitimação destes comportamentos será minimizar a probabilidade dos jovens se manterem em relações violentas”.

Por isso, estes resultados devem ser analisados por educadores, professores, pais, mães e sociedade em geral, "particularmente porque indicam o panorama real da situação portuguesa no que à violência no namoro diz respeito mostrando a enorme necessidade de prevenção primária a este nível”.

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