Zuma recusa sair do poder e o ANC decide o seu futuro na quarta-feira

O partido do poder na África do Sul pediu ao Presidente que se demitisse. Perante a recusa, os opositores de Zuma querem destituí-lo até quinta-feira, dia do discurso do Estado da Nação.

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Reuters/Sumaya Hisham

Jacob Zuma continua a sacudir a pressão para que se afaste imediatamente da Presidência da África do Sul. Nesta segunda-feira, um dos órgãos dirigentes do seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), reuniu-se para decidir o que fazer depois de o Presidente ter recusado, no domingo, um pedido de destacados membros da formação para largar o poder. Na quarta-feira o órgão máximo do partido vai decidir o seu futuro. A oposição a Zuma quer destituí-lo até quinta-feira e para o final do mês está marcada uma moção de censura no Parlamento.

Os seis dirigentes do ANC foram à residência presidencial em Pretória para convencer Zuma – que está envolvido em centenas de escândalos de corrupção – a deixar o cargo voluntariamente antes de terminar o seu último mandato, em 2019. Sem terem sido avançados detalhes sobre a reunião, sabe-se que o pedido foi recusado. Um comité directivo do ANC reuniu-se então na sede do partido, em Joanesburgo, e convocou uma reunião do Comité Executivo Nacional, o órgão máximo do partido, para quarta-feira onde se decidirá o futuro do Presidente, noticia a comunicação social sul-africana.

Presidente desde 2009, Zuma foi sendo envolvido em casos de corrupção que, juntamente com a degradação da economia, acabaram por atingir fortemente o seu partido, que teve um lugar central no processo de resistência e de desmantelamento do regime do Apartheid, dominando a vida política sul-africana desde então, e que agora se encontra estilhaçado internamente, tendo já sido punido nas urnas — em 2017, o ANC perdeu algumas das principais cidades, incluindo Pretória e Joanesburgo.

Em Dezembro, Zuma acabou por ser substituído da liderança do ANC pelo seu vice-presidente, Cyril Ramaphosa, que começou a reunir apoios para que lhe fosse aberta a porta do poder através da destituição do actual Presidente – os apoiantes de Ramaphosa querem já a queda de Zuma pois isso representaria uma posição de força e também para ganhar tempo de forma a estabilizar e unir novamente o ANC para enfrentar novas eleições. Especula-se que Zuma pretende adiar o mais possível a sua saída para evitar acusações judiciais.

O objectivo imediato dos opositores do Presidente é forçar a sua destituição até quinta-feira, dia em que realizará o discurso sobre o Estado da Nação, e onde poderá anunciar novas medidas unilaterais que podem aumentar a sua base de apoio popular, dando também um sinal de que ainda domina o partido. Um dos partidos da oposição, o Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês), informou que está a ponderar recorrer aos tribunais para evitar o discurso ou a convocar uma moção de censura até lá.

No encontro de emergência desta segunda-feira em Joanesburgo, os 20 membros do comité de trabalhos do ANC foram informados sobre o que se passou na reunião de domingo e decidiram o que fazer a seguir. O próximo passo é a convocação dos 80 membros do Comité Executivo Nacional que têm poder para aprovar um pedido formal de destituição do Presidente – o que poderá não ser suficiente pois Zuma terá de sair pelo próprio pé tal como fez o seu antecessor, Thabo Mbeki, em 2008 perante uma situação semelhante. Se mão resultar, o partido tem apenas um caminho para forçar a saída de Zuma: o Parlamento. Está já marcada mais uma moção de censura para dia 22 deste mês, apresentada pelo EFF. O ANC terá a opção de se aliar aos seus rivais políticos para afastar o Presidente sul-africano. Zuma já mostrou estar disposto a entrar em guerra mas a derrota parece ser apenas uma questão de tempo.

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