Igreja brasileira nega acusações de tráfico de crianças portuguesas

Instituição promete apresentar “inúmeras acções” contra a TVI. Polícia Judiciária alerta que crimes já prescreveram.

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A IURD tem actualmente nove milhões de fiéis, espalhados por 182 países NFACTOS / FERNANDO VELUDO

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) afirmou esta terça-feira que as acusações de rapto e de um esquema de adopção ilegal de crianças portuguesas num lar em Lisboa são fruto de "uma campanha difamatória e mentirosa".

Num comunicado divulgado no Brasil, a igreja brasileira afirmou que a investigação realizada pelos repórteres da estação portuguesa de televisão TVI baseia-se no depoimento falso de um ex-bispo chamado Alfredo Paulo, que teria sido expulso da igreja por conduta imprópria.

A IURD acrescenta que "os seus membros, em Portugal e fora do país europeu, apresentarão inúmeras acções contra a TVI em Portugal e no exterior".

Num vídeo divulgado pela Igreja Universal num canal oficial do Youtube, dois jovens chamados Vera de Andrade e Louis Carlos de Andrade, netos de Edir Macedo, que foram adoptados no lar mantido pela igreja em Lisboa, pronunciaram-se alegando que a reportagem da TVI fez acusações que não são verdadeiras.

"A TVI está a dizer coisas a nosso respeito que não são verdadeiras. Estão a dizer que fomos raptados pela cúpula da Igreja Universal. Nós não fomos raptados, fomos adoptados de forma legal por uma família americana e vivemos até os nossos 20 anos com esta família nos Estados Unidos", disse Louis Carlos.

"Queremos dizer à TVI que não é justo, de forma nenhuma, o que eles estão a fazer connosco. E queremos o direito de resposta", adianta o vídeo.

Na noite de segunda-feira, a TVI iniciou a exibição de uma série de reportagens denominada "O Segredo dos Deuses", na qual noticia que a IURD esteve relacionada ao rapto e ao tráfico de crianças nascidas em Portugal.

Os supostos crimes teriam acontecido na década de 1990 com crianças levadas para um lar em Lisboa. Estes raptos teriam alimentado um esquema de adopções ilegais em benefício de famílias ligadas à IURD que moravam no Brasil e nos Estados Unidos.

Entretanto, o Ministério Público português abriu um inquérito sobre esta alegada rede de adopções ilegais de crianças portuguesas ligadas à IURD, disse segunda-feira à Lusa a Procuradoria-Geral da República. "Existe um inquérito relacionado com essa matéria, tendo o mesmo sido remetido ao DIAP [Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa] para investigação", adiantou a Procuradoria-Geral da República numa resposta enviada à Lusa.

No entanto, o director nacional adjunto da Polícia Judiciária, Pedro do Carmo, adiantou ao Diário de Notícias que "nunca nenhuma entidade ou autoridade denunciou até hoje qualquer um destes casos à PJ. Para nós é uma matéria desconhecida" e que, actualmente, "os crimes prescreveram". Ilícitos graves como sequestro de crianças ou associação criminosa, têm um prazo máximo de 20 anos para serem investigados, explicou o director nacional adjunto da PJ. O primeiro caso relatado na reportagem, de três irmãos levados para os EUA, aconteceu em 1995, pelo que prescreveu em 2015.

O primeiro episódio da série da TVI, que afirma ter tido acesso a mais de 10.000 documentos numa investigação que durou sete meses, conta a história do reencontro de uma mãe portuguesa com os seus três filhos, retirados segundo ela sem autorização pela Segurança Social e depois enviados para uma outra família que vivia nos Estados Unidos.

Segundo informações levantadas pela TVI, a IURD tem actualmente nove milhões de fiéis, espalhados por 182 países, 320 bispos e cerca de 14.000 pastores.

Esta igreja evangélica foi fundada no final da década de 1970 e é liderada pelo bispo Edir Macedo, considerado um dos homens mais ricos do Brasil.

A série da TVI começou a ser exibida segunda-feira e tem 10 capítulos.