Quase metade das mulheres vítimas escondem o crime de que são alvo
"A violência contra as mulheres é tanto uma causa como uma consequência da desigualdade de género", afirmou a directora do Instituto Europeu para a Igualdade de Género.
Quase metade das mulheres que foram vítimas de violência nunca contou a ninguém que foi alvo de crime, pelo que os casos relatados são "apenas uma fração da realidade", denunciou esta terça-feira o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE). O instituto tem uma nova forma de medir a violência contra as mulheres e a pontuação sugere que Portugal é um dos Estados-membros menos afectados por este fenómeno.
"A violência contra as mulheres é um problema muito maior do que as estatísticas mostram", afirma em comunicado o EIGE, que alertou para este problema numa conferência sobre o Índice de Igualdade de Género 2017, que decorreu no Parlamento Europeu, em Bruxelas.
Segundo o instituto, quase uma em cada duas mulheres (47%) que sofreu violência nunca disse a ninguém, "seja à polícia, serviços de saúde, um amigo, vizinho ou colega". "A violência contra as mulheres é tanto uma causa como uma consequência da desigualdade de género", afirma a diretora do EIGE, Virginija Langbakk.
Virginija Langbakk sublinha que "nas sociedades que toleram a violência", os agressores não são punidos, as vítimas são culpadas e as "mulheres têm menos probabilidades de falar sobre isso".
Para acabar com essa "cultura de silêncio e de culpa das vítimas", são necessárias respostas "mais fortes dos governos, da polícia e da justiça".
"As mulheres devem saber que as suas queixas serão levadas a sério e a justiça será feita para que possam recuperar as suas vidas", frisa.
À luz das recentes denúncias divulgadas na comunicação social, o Parlamento Europeu apresentou uma resolução para o combate ao assédio e ao abuso sexual e exige uma abordagem de tolerância zero em relação ao assédio sexual. As vítimas são encorajadas a falar e o parlamento exorta os políticos a actuarem como modelos responsáveis na prevenção e combate do assédio sexual.
"O assédio sexual não é inofensivo e tem um custo elevado para as pessoas, as suas famílias e o resto da sociedade", alertou a responsável. Para acabar com a violência, "precisamos urgentemente de enfrentar a impunidade e o estigma social, que levam a uma subnotificação".
"Os homens e os rapazes também têm de ser envolvidos na prevenção da violência, porque a igualdade de género é responsabilidade de todos", diz a também presidente do Comité do Parlamento da UE sobre os Direitos da Mulher e a Igualdade de Género.
Para ilustrar o espetro da violência, o EIGE desenvolveu uma nova ferramenta, como parte do Índice da Igualdade de Género, que avalia as várias formas de violência contra as mulheres, desde o assédio sexual até à morte. Também ajuda a medir outras formas de violência, como o tráfico de seres humanos, a violência entre parceiros íntimos, agressões sexuais e violações. "Pela primeira vez, temos uma pontuação comparável para violência contra mulheres na UE e em cada Estado-membro", explica Virginija Langbakk.
A pontuação da UE é de 27,5 em cada 100 (quanto maior a pontuação, pior a situação), mostrando que "o fenómeno é prevalente, grave e pouco relatado". As pontuações variam entre 22,1 na Polónia a 44,2 na Bulgária. A alta pontuação na Bulgária deve-se principalmente à taxa de não-divulgação da violência, que é mais de três vezes a média da UE (48,6 e 14,3, respetivamente).
Segundo o Eurobarómetro de 2016, 15% dos europeus ainda consideram a violência doméstica como uma questão privada, mas as coisas começaram a mudar nos últimos tempos e as mulheres estão a denunciar mais.
As recentes alegações de assédio sexual em Hollywood levaram à campanha mundial #MeToo que pretende quebrar o silêncio sobre o assédio sexual e a violência contra as mulheres.