Incendiárias detidas pela Judiciária quadruplicam

No ano passado só houve duas mulheres detidas, mas este ano já existem oito suspeitas. Pelo menos duas confessaram crime. Homens indiciados são já 44.

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Só este ano a Judiciária já deteve 52 pessoas por suspeitas de incêndio florestal Mário Lopes Pereira

Quadruplicou o número de mulheres detidas pela Polícia Judiciária por suspeita de incêndio. Se até Agosto do ano passado se tinham registado apenas duas detenções, este ano já foram feitas oito.

O caso mais recente, divulgado esta terça-feira de manhã, diz respeito a uma mulher de 48 anos, divorciada, cujos desentendimentos com o ex-companheiro deram origem a um incêndio florestal que consumiu entre 200 e 300 hectares, em terrenos povoados por mato, pinheiros, eucaliptos, medronheiros e árvores de fruto.

Tudo aconteceu junto à Foz da Amieira, no Malhadal, Proença-a-Nova, a 26 de Julho passado. Era hora de jantar e a mulher, que se encontra desempregada, tinha bebido umas cervejas “num quadro de desorientação emocional, face aos problemas de conflitualidade com o seu ex-companheiro”, descreve um comunicado da Judiciária. Os bombeiros só conseguiram controlar o fogo no dia seguinte, tendo o presidente da câmara levantado logo suspeitas de mão criminosa. A incendiária, que foi vista por habitantes a esconder-se na mata na altura do incêndio, acabou por confessar o crime. Vai ser presente às autoridades judiciárias competentes para primeiro interrogatório e aplicação das medidas de coacção tidas como adequadas.

Na mesma altura em que deflagrou o fogo da Foz da Amieira uma mulher de 50 anos confessava ter sido ela a atear, no fim-de-semana anterior, um incêndio de proporções ainda maiores no concelho de Castelo Branco, que depois de deflagrar em Vale do Coelheiro se propagou nos dias seguintes aos concelhos de Vila Velha de Ródão e de Nisa, já no distrito de Portalegre. Às autoridades, disse tê-lo feito por causa da raiva que sentia da vizinhança, que a acusava de ser a autora de outros incêndios anteriores, no ano passado e também já este ano, disse às autoridades. Segundo fonte ligada ao processo, a mulher estava em casa no domingo a ver uma reportagem televisiva sobre outro fogo, na zona de Coimbra, quando decidiu pegar num isqueiro e ir incendiar uma área de pasto seco e pinheiros a 200 metros da sua residência. Foi vista por um vigilante de um posto de vigia florestal, que forneceu uma descrição sua às autoridades.

Além das oito mulheres, a Polícia Judiciária deteve desde o início do ano por suspeitas do mesmo tipo de crime 44 homens. O mais recente suspeito é um homem de 32 anos, sobre o qual recaem fortes indícios de quatro incêndios florestais entre 7 de Junho e 6 de Agosto, sempre ateados durante a noite, em terrenos próximos de sua casa, no concelho de Vendas Novas. Ficou em prisão preventiva.

A Judiciária anunciou ainda esta terça-feira ainda outras duas detenções. Uma diz respeito a um homem de 30 anos, também desempregado, indiciado por cinco crimes de incêndio florestal praticados todos no mesmo dia, a 20 de Julho, em Baião, no lugar do Casal. “O detido é ainda suspeito de ser o autor de uma outra ignição ocorrida no mês de Junho, no mesmo lugar”, refere a mesma força policial. A outra detenção refere-se a um septuagenário reformado, cuja actuação apenas não deu origem a um fogo florestal de grandes dimensões em Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar, a 17 de Julho passado, graças à pronta intervenção dos meios de combate.

Ao todo, no corrente ano, a Polícia Judiciária já identificou e deteve 52 pessoas por suspeitas de crime de incêndio florestal, quando em 2016, por esta altura, apenas tinham sido detidas pela mesma força policial 21. A maioria dos 52 suspeitos não tem ocupação profissional, mas entre eles está também um bombeiro, dois ex-bombeiros e ainda um sapador florestal da Sertã que, depois de atear os fogos, se apresentava ao serviço para os combater "de forma aguerrida", na descrição de uma fonte de informação ligada à Judiciária. Com 25 anos, terá dado origem a um incêndio que, a 17 de Julho, destruiu 291 hectares de floresta no concelho de Oleiros, no distrito de Castelo Branco.

Entre os detidos há ainda pastores, agricultores e estudantes. Nenhum deles apresentou razões económico-financeiras para a sua actuação, nem disse ter agido a mando de alguém. O alcoolismo e as perturbações psíquicas e emocionais terão estado na origem de muitos destes crimes, a par de motivos fúteis, como por exemplo vingarem-se de vizinhos com quem mantinham desavenças. Outros agiram por impulso: sentiram uma vontade incontrolável de verem a floresta a arder. No caso dos pastores, a renovação dos pastos pode ter motivado o sucedido. 

 

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