Margarida Marques foi apanhada de surpresa pelo anúncio da sua substituição
A ainda secretária de Estado dos Assuntos Europeus recusa divulgar os motivos invocados, mas nega qualquer mal-estar com Augusto Santos Silva. Paulo Rangel elogia escolha de Ana Paula Zacarias para o cargo. A tomada de posse dos novos governantes deve ter lugar ao fim da tarde de sexta-feira.
A ainda secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques, confessa ao PÚBLICO que foi apanhada de surpresa quando o ministro dos Negócios Estrangeiros lhe comunicou que estava de saída, mas recusa-se a dizer quais os motivos invocados para a substituição.
"Como dizia o meu ministro há dias, somos todos precários no Governo. Concluo que o primeiro-ministro entendeu que eu já não era necessária no Governo", afirmou a ainda governante, que vai voltar ao Parlamento a partir da próxima semana. Uma alusão directa a António Costa, que a escolheu para o cargo e de quem terá partido a iniciativa da substituição.
Margarida Marques nega qualquer mal-estar com o ministro Augusto Santos Silva: "Trabalhamos sempre lindamente, muito articulados, não temos diferenças de opinião em matérias políticas nem nunca tivemos qualquer divergência de percepção ou de estratégia", sublinha.
Numa nota enviada ao PÚBLICO, Santos Silva também afirma que "a relação do MNE com os secretários de Estado foi e é excelente". E agradece também a "enorme dedicação e trabalho" dos dois secretários de Estado sob a sua alçada agora substituidos.
Fontes ouvidas pelo PÚBLICO remetem algum mal-estar para outras instâncias, considerando que Margarida Marques teria alguns anti-corpos na Reper (Representação Portuguesa na UE) e em outros gabinetes do Governo.
Margarida Marques já sabia há algum tempo que estava a prazo no governo, embora não queira dizer desde quando. Acrescenta apenas que a remodelação foi acelerada devido à saída dos secretários dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade, da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, e da Indústria, João Vasconcelos, que apresentaram a sua demissão no domingo, antecipando a sua constituição como arguidos no chamado caso Galpgate.
Enquanto secretária de Estado, Margarida Marques coordenou, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, o processo de apoio à candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas, assim como as movimentações diplomáticas que ajudaram a travar, em 2016, as sanções europeias por Procedimento por Défice Excessivo.
Ana Paula Zacarias é "muito boa escolha", diz Rangel
Vai agora ser substituída pela embaixadora da UE na Colômbia, Ana Paula Zacarias.“Uma muito boa escolha”, considera o eurodeputado Paulo Rangel. “Tenho a melhor das impressões da diplomata e estou convencido que irá fazer um excelente trabalho”, disse ao PÚBLICO o vice-presidente do PPE, grupo parlamentar em que se integram os eleitos do PSD em Bruxelas.
Paulo Rangel sublinha em particular os últimos anos do percurso de Ana Paula Zacarias, considerando que “teve um papel muito importante quando esteve à frente da missão da União Europeia no Brasil”, tal como agora, no âmbito do processo de paz na Colômbia, país onde dirige a delegação da União Europeia.
“Concorreu a um concurso dificílimo para a Colômbia e ganhou a candidatos fortes, como diplomatas espanhóis”, sublinha Paulo Rangel, considerando que, nesse sentido, trata-se de uma “perda para Portugal” no xadrez internacional.
Ana Paula Zacarias, 58 anos, é diplomata de carreira. Estudou Antropologia Cultural e Direito, foi assessora para as relações internacionais do Presidente da República Mário Soares e vice-presidente do Instituto Camões. Desempenhou cargos diplomáticos em Washington, Paris, Curitiba e Brasília. Foi embaixadora de Portugal na Estónia e Representante Permanente adjunta de Portugal na UE.
Em 2011 entrou no Serviço Europeu para a Acção Exterior (EEAS), assumindo funções como embaixadora da EU no Brasil até 2015, altura em que assumiu o mesmo posto perante Colômbia e o Equador.
A tomada de posse dos novos membros de Governo, cujo elenco será esta quinta-feira apresentados pelo primeiro-ministro ao Presidente da República, deverá ter lugar ao fim da tarde de sexta-feira, após a conferência “Livro Branco da Comissão Europeia: o Futuro da Europa em Debate”, promovida pelo gabinete de Margarida Marques, e que será encerrada por António Costa.