Contas do PS geram polémica no interior do partido
António Galamba, que nunca foi um entusiasta da actual direcção do PS, aconselha os actuais dirigentes a focarem-se “no presente e no futuro, até porque, ao olhar pelo espelho retrovisor, só vê 150 municípios a reganhar”.
A notícia do PÚBLICO, no início da semana, sobre o facto de as contas do PS terem gerado saldo positivo pela primeira vez nos últimos quatro anos, está a gerar polémica interna. No seu artigo de opinião semanal, publicado esta quinta-feira no i, António Galamba critica a actual direcção do PS por gostar “de vir a público falar sobre as dificuldades financeiras e alegada herança herdade, sem cuidar de ter senso e rigor”.
O que incomodou António Galamba não foi a redução de quase um milhão de euros de passivo no último ano. Também não foi a diminuição da despesa corrente em 14,78%, o equivalente a 1,3 milhões de euros. Foram, sim, as palavras de Luís Patrão para justificar o estado a que o PS chegou, com um passivo que ultrapassa os 20,7 milhões de euros.
Ao PÚBLICO, Luís Patrão frisou que o grande aumento do passivo que houve a seguir às eleições de 2013, quando os valores subiram de -17 milhões para -21 milhões de euros, se deveu ao facto de a anterior direcção socialista ter previsto “uma subvenção das autárquicas sem ter em conta os cortes de 20% impostos por uma alteração à lei, que na prática resultavam em menos 36%”. Essa foi a “origem do buraco financeiro de mais de três milhões e que fez disparar a dívida”, disse.
Mas Galamba tem outro entendimento. No artigo “Um patrão a querer conversa”, o militante do PS escreve que foi em 2011, “fruto dos resultados eleitorais em perda desde 2009 e das loucuras concretizadas nas campanhas eleitorais desses seis anos” que “o PS ficou numa situação deplorável e numa situação política exigente”.
O socialista, que foi membro da comissão política do PS e elemento da direção de António José Seguro, lembra ainda que “em 2011 existiam várias situações de contencioso com o fisco sobre IVA a que o partido tinha direito e que os sucessivos governos não resolveram”. E explica que, de facto, “o PS foi esbulhado [em 2013] de 3,6 milhões de euros porque PSD e CDS aprovaram legislação com retroactividade, numa iniciativa sem precedentes no quadro jurídico português”.
As críticas à direcção do PS têm ainda a ver com o facto de esta querer fazer com a dívida do partido o que muitos querem fazer com a do país: “adiar o seu pagamento para um futuro em que já não estará em funções”, porque “estas coisas do poder são efémeras”.
Recordando que “entre 2011 e 2014, o PS ganhou eleições, sem um exacerbado centralismo democrático”, Galamba aconselha os actuais dirigentes socialistas a focarem-se “no presente e no futuro, até porque, ao olhar pelo espelho retrovisor, só vê 150 municípios a reganhar”.